revisitando...

hoje eu vesti vermelho.

mantive a cara lavada e já me sinto pronta...

pra guerrear com a vida... entre partidas e chegadas.

logo que aqui cheguei abracei a minha irmã

e limpamos os pequenos vãos da casa dos nossos pais.

pequenos... pequeníssimos...

eu nunca pensei que pudessem ficar tão pequenos.

arrumamos tudo... eu e ela.

desarrumamos nós e lavamos tudo com água de choro.

encontramos perdidos... grandes achados.

batemos a porta... mudas.

não olhamos pra trás.

vi minha filha gestar e o meu neto nascer.

ainda não sei o que é mais belo:

o perfeito rostinho do meu neto...

ou a maternidade nascida de minha filha.

ambos tão belos... tão filhos.

... olho para trás e foi ontem...

ela nascida de mim.

e ele nascido dela que é nascida de mim.

e fico tão confusa...

fui vó.

e os meus filhos perderam o vô.

a mãe do meu neto perdeu o vô.

dessa vez, paterno.

uma tristeza só...

e as lacunas vão se multiplicando...

os elos das correntes, partindo.

e vamos nos agarrando aos grilhões-amor.

passamos pra ponta da fila.

eu estou na ponta da fila.

sou órfã... sou mãe e sou vó.

não sou mais filha... e sou filha do mundo.

e resolvi usar linguagem coloquial

só porque eu tô feliz... triste e confusa.

vim... fui vó... cuidei da filha... abracei os filhos.

chorei o útero de minha mãe...

e as tantas saudades de meu pai.

colhi novamente a minha flor amarela.

abracei o poeta.

gostaria de ter revisto alguns amigos... irmãos.

... um banho de mar e um milho verde quentinho... mastigar.

não deu... mastiguei espinhos.

debulhei alguns galhinhos...

e ajudei a montar um ninho.

submergi no meu estado de graça...

submergi - não deu.

abracei uma amiga muito amada... antiga.

ela sempre vem quando perco amores e fico órfã.

quando ganho amores e sou vó.

grande amiga... Deus a abençoe.

e nossa conversa é sempre tão hoje...

agradeci a Deus... faço as pazes então.

hoje eu vesti vermelho.

abracei o meu neto...

balancei o meu neto... e agradeci a Deus.

mas resolvi me vestir com as armas de Jorge.

... e as armas ocultas do bem...

de quem mais quiser me emprestar.

sou filha das águas... contorno e avanço.

e vou tornar a guerrear... erguida!

ah... não vim pra essa vida brincar...

com a vida! ... com a vida!

karla mello

14 de outubro de 2014

Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 16/10/2014
Código do texto: T5001075
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