O Buraco da Vida

Qualquer um que queira ouvir o mundo, precisa ir para lá. Ouvir seus encantos, suas lamúrias, seus urros de fúria e de dor, precisa ir para lá. Nada de Al Gore dizendo ao mundo, melhor dizendo, às "pessoas", que estamos destruindo "dele", e ouvir - de cabeça baixa como um filho que acaba de quebrar a xícara do jogo de chá mais caro dos pais - a bronca.

Aquela garganta está engasgada, afogada, melhor dizendo. Tem tanto a dizer, opinar. É um desfiladeiro tão fundo e íngreme que um simples helicóptero, se mal conduzido, seria apenas uma mosca a ser engolida viva pela bocarra do mundo.

Não, não fique com medo... Dificilmente você sentirá isso ao ficar de frente pr'aquele "mundão" de buraco. Ele o enfeitiça, o atrai. O barulho das toneladas em água castigando as rochas é tão alto que você, eu, não pensaremos em nada. É o silêncio imposto pelo barulho.

É diferente de quando nos afogamos, por exemplo: onde debaixo d'água o silêncio eterno grita em nossos ouvidos e queremos fugir dali. É mais como quando somos atropelados e, apesar da gritaria, a buzinada, os pneus cantando e o "tuiiiiiinnnnnnnn" do ouvido; não percebêssemos nada. Paradoxos da vida.

Olhar aquele buraco é olharmos nós mesmos e o nosso fim. Todo mundo, lentamente, está sendo sugado por aquele buraco azul. Engolidos para depois sermos vomitados melhorados.

Como será que as pessoas que moram ali perto veem aquele buraco molhado? As crianças nadam por ali, os adultos pescam, jovens casais já se jogaram ali, juntos, jurando amor eterno no outro mundo?

Não sei. O avião passou. A Terra começa a invadir o Mar, e eu voltei...

Este texto foi escrito graças a essa imagem, viaje também: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/files/2012/04/paredes-de-thor.jpg