Nuvens amarelas

Um instante de palidez, mãos e dedos que se atiram ao vazio de costas que se viram, sem sobras de alma e sombras que transfigurem tua presença. Ponta de dedos incansáveis que não alcançam, e um sopro de vento covarde que levanta fios de teus cabelos aos meus olhos e rabiscam minha face. Passos sem volta, caminho infinito que carrega teus pés a lugares tão distantes que minha imaginação jamais alcançará. Não tem sentido, porque todo o universo agora gira na rotação de um furação e mistura e explode todos os planetas e estrelas de meu céu que acabou de cair, nesse meu instante de palidez, e não tem mais lei que equilibre e recupere, sequer, a órbita de minha via láctea e me faça respirar ar livre de fogo. Respiração, um fôlego assustado, pulmões quase sem ar e nuvens amarelas paralisadas na gravura desbotada de um quadro qualquer. Lentidão, porque não quero perder agora nem as lembranças, e as puxo vorazmente com a memória, esforço inútil. Ah... se pensamentos tivessem mãos, então eu puxaria todas as lembranças perfeitas de meus momentos junto a ti, e as guardaria num baú, todas trancadas, para revivê-las a cada manhã de céu cinzento. Se é o que me resta, retratos de nossas vidas espalhados dento de mim, então juro que meu acordar será sempre um sonho, onde só as lembranças serão reais.

Josué Mendonça
Enviado por Josué Mendonça em 26/05/2007
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