(Imagem Google)


LOBO DO MAR, SOB FORTE TEMPESTADE,
O HOMEM, SEU NAVIO E O MAR BRAVIO
 (REEDIÇÃO)
(texto e poema escritos por jlc - jan)

                                                        
Na época, eu era o mais jovem oficial do navio “Loide América”, um cargueiro da Cia. Loide Brasileiro (PN). Navegávamos em direção a New York, em minha segunda viagem para aquele país. A mais ou menos 360 milhas náuticas daquele porto, fomos surpreendidos por um rabicho de uma violenta tempestade que, devastava aquela cidade, numa velocidade superior a 200 km p/hora, era o ciclone DONNA. Jamais havia visto algo parecido ou sentira toda a inesperada violência da natureza. Como homem do mar, esse fora meu primeiro batismo, entre tantos. 

O mar, enfurecido, parecia que enlouquecera. Sob aquele forte e violento vento, que formava ondas, com mais de 20 metros de altura, ora de bombordo, ora de boreste, de proa ou de popa - totalmente sem direção certa - como se fosse engolir a embarcação.

Durante mais de 38 horas, passamos o horror daquilo tudo, tentando nos manter em pé, pois o navio adernava, para um bordo e outro ou afundava sua proa, a todo o momento, assustadora e sucessivamente, sem parar. Foi quando, após um balanço em que o navio adernara 45 graus para bombordo, assustando a todos, pois, apenas um grau a mais, ele faria uma rotação no próprio eixo e afundaria, felizmente, nosso corajoso, competente e destemido Comandante, velho lobo do mar, assumiu o lugar do timoneiro e decidiu tentar desviar o navio de rumo, a fim de pegar mar e vento favoráveis pela popa, o quê penso, agora, ele tenha competente e audaciosamente imaginado, melhorasse a navegabilidade. O navio teria que virar a proa para a África, e isso exigiria uma manobra de grande perícia, pois poderíamos ser surpreendidos por uma gigantesca onda, do lado de bombordo que, certamente, nos faria girar no próprio eixo, para boreste, e em seguida afundar... Foi um milagre, com certeza, que nos trouxe de volta e que me inspirou a emocionado, ainda, escrever esse texto.

Conseguimos chegar seis dias depois em New York, quando, antes, nos faltava apenas e tão somente 12 horas de viagem.

À bordo viajava conosco a esposa do comandante. talvez tenha sido a sua religiosidade que nos salvou, felizmente!

Dois dias depois da nossa chegada em Brooklin - no pier 30 - onde atracamos, a esposa do Comandante solicitou-lhe que reunisse toda a oficialidade do navio e nos transmitiu, ela própria, com a autorização do marido, um convite para que, aqueles que não estivessem de serviço, os acompanhassem à Igreja onde ela pagaria uma promessa à Santa Bárbara, nessas ocasiões, sempre invocada como protetora dos navegantes, de tempestades, raios, trovões e perigos de mortes trágicas (coincidentemente, a santa que cedeu seu nome à cidade onde hoje resido). Todos aceitamos e, no dia seguinte, comparecemos à Igreja, onde, sob forte emoção agradecemos, à bendita Santa Bárbara e à Deus, nosso livramento, principalmente porque, sem sabermos da bondade daquela senhora, esposa do nosso Comandante, de suas orações, durante o mau tempo, todos nós, comandante, oficias e tripulação combinamos, confiantes na suprema bondade de Deus, que não usaríamos, acontecesse o que acontecesse, os salva- vidas...

Ouso contar-lhes minhas emoções e, antecipadamente, peço-lhes desculpas pela falta de modéstia, por ter aceito os elogios dos amigos, que leram essa minha estória contada em prosa e versos, afinal, sou apenas um ser humano sensível e nada mais.
Por isso, escrevi, complementando minha emoção, o poema, abaixo. Espero que entendam e, principalmente, gostem!


LOBO DO MAR, SOB FORTE TEMPESTADE,
O HOMEM, SEU NAVIO E O MAR BRAVIO
( poema épico escrito por jlc - jan)


Singras presunçoso, águas revoltas,
Sem te importares com a tempestade,
Que nos açoita e nos preocupa,
Como se medo, dela, não tivesses,
De forma insana, potente, mergulhas,
Nosso corajoso e valente herói épico,
Em ondas violentas, profundas,
Que se arremetem, alavancadas,
Contra o passadiço e afogam o tijupá.
Enquanto eu te observo emocionado,
Meu sangue corre gélido nas veias.
Assim, segues em frente, displicente
E neste afundar proa e rasgar ventos,
Continuas tua luta, contra a procela, indiferente,
A arrancar gemidos de tuas cavernas,
Que ecoam em meus ouvidos,
Como se fosses quebrar, partir ao meio.
Meu velho e bom navio tu sabes, muito bem,
Que não és mais jovem e apesar de "americano",
És,um adaptado, sobrevivente da segunda guerra mundial.
Mas, sem te importares com a imensa idade,
Insistes em lutar com galhardia, velho companheiro.
Mas eu, conhecedor, agora, de tua, compleição frágil,
Compulsoriamente, te sigo, observando.
Preocupado com tua reação,
Sinto saudade, confesso,
Neste nosso momento crítico,
Da segurança do meu chão amigo.
Para que, com dignidade,
Desta nos livremos logo,
Tentarei, contudo, te demonstrar,
Que também sou corajoso,
Fingirei que nada sei de nada entendo.
Como se nada de anormal,
Estivesse acontecendo,
Teimoso, continuas a te arriscar, arfas, gemes,
Arrancas de tuas amuradas, gritos horripilantes,
Balanças, adernas, sofres, estremeces,
Parece mesmo que vais rachar ao meio.
Fazes meu sangue correr mais gélido nas veias
E meu coração disparar como se explodir pudesse.
Felizmente, para nós, nessa luta de titãs,
Continuas a desatar os nós,
Desse nosso infeliz destino,
Meu valente e destemido lobo do mar,
Sem te importares, repito:
Que absurdo, com tua longa idade!
Açoitado pelo rabicho desse ciclone “Donna”,
Distante, 360 milhas náuticas, de New York,
Lutas para sobreviver e nos proteger.
À matroca, desesperado, mas intrépido,
Balanças de boreste a bombordo,
Como se estivesses sem rumo.
Solitariamente, perdido no furacão,
Ao sabor de ondas cada vez mais violentas,
Como se fosses afundar na maresia.
Enquanto penso que sofres, neste mar insano,
Sob a força deste vento arrasador,
Que aumenta cada vez mais a altura das ondas,
Ao invés, lépido flanas,
Voas como se fosses simples folha de papel,
Solta, balançando na ventania,
Varrida, por Deus, do teu convés.
Contigo, aprendi amigo,
No pouco tempo,
Em que juntos convivemos,
Que quando finges ser jovem, como agora,
Na verdade estás em dificuldade
E é por isso que, assustado,
Perdoa-me, eu temo por nós!
Sou humano, não sou de ferro,
Meu arcabouço, diferente do teu,
É revestido de carne e osso
E não de aço como o teu,
Não enverga, não dilata,
Apenas sangra, sofre, chora, geme,
Treme, covardemente, como agora,
Confesso: assustado temendo a morte!
Entretanto, tu não, criatura
Maravilhosa irresponsável,
Audaz, continuas desvairado,
Arremessando-te contra as ondas,
Fazendo-me sentir medo, ficar apavorado!
Vendo-te, assim, corajoso,
Sobre e sob esse mar desordenado,
Ao perceber a proximidade da morte, estremeço,
Sinto meu sangue correr gélido nas veias,
Assusto-me com toda essa tua valentia.
Admirável louco, obstinado,
Ao enfrentar a forte ventania
E nesse momento, nem imaginas,
Porque sendo um monte de ferro velho,
Não raciocinas e, por isso,
Não sentes tudo o quê sinto agora
E, o tanto que temo, por nosso destino.
Meu velho amigo, audaz marinheiro.
Não penses que só porque foste feito de aço,
Podes enfrentar impune a força da mãe natureza,
Que está tudo bem e que mandas no pedaço.
Não te iludas valente, assim poderás nos destruir!
Percebeste meu velho lobo do mar?
Mais uma vez, a onda passou batendo violenta,
Cobrindo o passadiço, alagando o tijupá,
O quê me faz, sob intenso pavor, te indagar:
Afinal, quando isso tudo acabará?
Assustados, todos nós, velhos e novos lobos do mar,
Ajoelhamos, rezamos e envergonhados,
Da tua coragem e de toda essa tua valentia,
Nos escondemos em nossos camarotes,
Esperando o desfecho de toda a nossa desdita.
Egoístas, não queremos que saibas,
Do medo que padecemos,
O quanto tememos o pior.
Envergonhados, preferimos que penses
Que, como tu, somos todos corajosos.
Para que continues fingindo que és forte
E que zombes desse nosso destino cruel, prometo:
Vou fingir que creio em ti e quem sabe, assim,
Consigamos espantar a morte.
Contudo, por favor, tenhas mais cuidado companheiro,
Tua dilatação, na amurada, aumenta a cada instante.
O mar furioso. já arrancou e levou a âncora, o molinete
E o tampão de um dos porões,
Que pesam, juntos, oito toneladas,
Como se fosse uma pequena folha de papel
Urge que lutemos para sair desta, uma vez mais.
Precisamos ter muita coragem,
Antes que seja tarde demais,
De reafirmar que, como o amigo,
Também somos parte deste mar insano,
Açoitado por esse maldito vento,
E que tu valente marujo é que é
O único e verdadeiro lobo do mar, neste convés!
Por isso, podemos e devemos,
No amigo, compulsoriamente, confiar...
Que Deus nos ajude, abençoe
E jamais nos abandone!

 
jlc
Enviado por jlc em 12/11/2014
Reeditado em 25/12/2014
Código do texto: T5032544
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