Madrugada

Meu sono atingiu o segundo orgasmo aí pelas três e meia, depois, não quis mais nada; usou-me e jogou-me como um traste na margem da madrugada.

Falei com Deus, falei com ela, e só ouvi ecos de mim. Sim, meu amor sempre dorme comigo ainda que sua pele ignore. Alguns tiros anteciparam-se aos galos... no subúrbio onde vivo, uns cambiam flores por pedradas.

Bem sei que a voz de Deus tem seu consórcio com o tempo; a voz dela guardo aqui dentro. O martelo do meu amor quebra as penhas, e a mão invisível bate num coração que não é de pedra.

Em venturosos e breves dias, quando o sono atingir seu clímax, apenas começaremos a jornada rumo ao nosso... Por ora a vida tem escrito diretrizes com letra de médico; minha sorte é a esperança com experiência de farmacêutico. Ensina que preciso pensar uma hora nela vinte e quatro vezes ao dia. O tempo que resta devo repousar.

Gosto da indiferença forçada, falsa como nota de sete reais... mas, prefiro a paixão declarada sobre a cama desarrumada, o estrago dos animais...

Os pardais que pousam em minha janela verão tudo; quando tudo se fizer à luz do dia; não entenderão, contudo, por que demoramos tanto para fazer nosso ninho.

Se puder comunicar com os passarinhos, eu arriscarei, e direi: O bicho homem tem quatro olhos; dois materiais, que veem como eles, o imanente; dois da alma, que viajam no sonho, sofrem a catarata do engano, tropeçam na ilusão. Se, o ninho deles se faz ajuntando, o nosso, é removendo ciscos...

Minha alma é pornográfica, está nua; ou, seria um nu artístico? Não sei... Arte dessas em cidade pequena e ainda no arrabalde? Pensando bem, inverteremos com o sono; primeiro, nosso prazer, depois, daremos a lassidão para que ele se esbalde...