Anunciaram a notícia demais surpreendente:
 
Um cometa se aproxima veloz da Terra
Antes da tarde cessar, será o fim de tudo
 
Maria, a moça dos doces, gritou aflita:
_ Logo hoje que fiz mais doces do que o habitual!
 
O vovô José, na sua cadeira de balanço, apenas sentia bastante sono. Ele percebeu a algazarra, as pessoas circulando assustadas, no entanto não demorou, voltou a cochilar.
 
O garoto Pedrinho combinou com dois coleguinhas:
_ Topam pedalar o dia inteiro antes que o cometa chegue?
 
O jardineiro João, aproveitando o excelente dia primaveril, exclamou:
_ Só me resta deixar o meu jardim muito belo para saudar o cometa.
 
A fofoqueira Salomé falou satisfeita:
_ Bem feito! A chata da Sara não vai poder casar a filha à noite!
 
A prostituta Madalena abraçou sua filhinha e disse:
_ Vamos preparar um pote cheinho de pipocas, querida! Depois a gente vê alguns filmes bem divertidos.
A menina sorriu dengosa aprovando a idéia.
 
O sovina Judas reclamou:
_ Tantos bens perdidos! Por que abandonar a minha fortuna agora?
 
O boêmio Sansão dialogou com os seus botões:
_ Vou aproveitar e tentar beliscar a gostosa da Dalila! Vai que cola, né?
 

Enquanto isso o poeta Gabriel inquieto observava a paisagem.
_ O que vou fazer nas derradeiras horas da humanidade?
 
Ele imaginou elaborar versos lindos, porém a inspiração parecia fugir.
Que palavras deixar anotadas? Elas alcançariam algum sobrevivente?
A responsabilidade fazia o nobre poeta tremer. 
**
Na metade da tarde, quando a forte apreensão cresceu, Maria festejava o sucesso das vendas, José seguia cochilando na sua cadeira de balanço e Pedrinho assobiava enquanto ele, ao lado dos animados amiguinhos, insistia pedalando firme.
João beijava uma rosa com contagiante carinho, Salomé não desistia de fofocar. Afinal de contas, era preciso aproveitar cada minuto.
Madalena e a filhinha já assistiam à terceira comédia romântica. Judas repetia os cálculos, lastimando deixar tanto dinheiro sem uso e o sedutor Sansão mergulhava fundo nas curvas da fogosa Dalila.
 
Gabriel desajeitado, contudo expressando profunda felicidade, estava, no meio da rua, dançando. As pessoas passavam condenando o ato:
_ Louco! Como pode dançar nesse instante?
 
Gabriel nada escutava.
Sua vontade era só dançar, dançar, dançar...
 
Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 22/11/2014
Reeditado em 22/11/2014
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