o amor é tipo afta

Outrora me vi refletindo (como de costume) sobre o eterno fio invisível, que por alguma força inexplicável, nos une. É como se, entre as dez mil pessoas que Bukowski diz que eu amaria mais se conhecesse, nenhuma fosse ter os teus olhos taciturnos. É como se, aqui ou do outro lado do mundo, só você pudesse me desnudar e me ler. Mesmo que não possas tocar minha língua, a que te fala, ou a que te beija, és o único que a compreende. Como na poesia que te li na noite passada, "mesmo no silêncio, e com o silêncio, dialogamos".

Eu sou teu violão quebrado e desafinado que só você sabe manusear (de modo que não te machuque e emita algum som). Sou a cruz que você carrega nos ombros e também a que está guardada na tua gaveta de lembranças. Você, é o rastro que deixo em todas as direções que resolvo seguir. Eu te despejo nas ruas de todos os lugares. Nas sílabas de todos os versos. No sal de todas as lágrimas. No aperto de todos os abraços.

Você é o meu transbordar que, até em tempos de secura, nunca se evapora por completo.

Então, eu levanto a questão:

- Será que amor é isso? Ser refém de alguém mesmo que sutilmente nas entrelinhas de tudo o que faz?

E alguém me responde:

- Tipo afta, né. Se tu não passar a língua, não dói.

Keuri Caroline
Enviado por Keuri Caroline em 01/12/2014
Reeditado em 01/12/2014
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