Naquele dia me questionei sobre nos dois

Naquele dia eu me questionei mais uma vez se ainda valia a pena.

Ao sair do banheiro e vê-la deitada na minha cama, apenas de calcinha, com aquela camiseta folgada que sempre uso, perdida entre travesseiros e lençóis, me perguntei novamente se realmente era com ela que eu deveria estar. Fazia um tempo que não nos entendíamos bem, nosso relacionamento já não era mais aquela paixão de novela, na verdade, brigávamos por besteira, qualquer motivo era um motivo para ficarmos de cara emburrada e perdermos uma noite juntos. Orgulho, esse era nosso pior mal. Eu sei que, por mais adultos que sejamos, acabamos agindo como adolescentes uma vez na vida, mas aquilo já tinha chegado longe demais. Confesso que, várias vezes, pensei em ir embora e não voltar nunca mais, me mudar para bem longe, uma outra cidade, quem sabe até para outro país, mas nunca tive coragem para fazer, alguma coisa me prendia a ela, alguma coisa que está além da minha capacidade de entender a vida.

Vê-la deitada em minha cama faz-me lembrar de onde tudo começou; do primeiro beijo, dos primeiros amassos, das primeiras descobertas, de nossa primeira transa naquele domingo de sol no fim de agosto. Vê-la dormindo ali me fez refletir sobre os meses que passamos longe da vida um do outro, de como era ruim lembrar daquela piada ridícula, que só ela ria, e não podê-la contar mais uma vez, ou quando, sozinho, assistia aquele sitcom que adorávamos ver jutos e nos identificar com os personagens principais, “olha, igualzinho a gente”.

Foi uma época difícil, livrá-la de minha cabeça, e quando, finalmente, eu estava quase conseguindo, quando encontrei meu outro par perfeito, vi que faltava algo. Foi ai que percebi que o grande defeito desse novo amor era não ser o antigo. Que decepção. E então, voltamos um para o outro.

_ Dessa vez vai ser diferente, eu prometo.

_Não se preocupe, eu vou mudar.

E no fim das contas, pouca coisa se modificou. Não obstante, em meio a essa relação paradoxal, de amor algofílico, percebi que não viver perto de seu insuportável humor, em dias de tpm, é algo extremamente insuportável e que ficar longe daquele cabelo desarrumado, de sua cara amassada quando acorda, é impossível. Eu sei que parece exagero da minha parte, daqueles típicos refrões compostos por Cazuza, mas é a mais pura e simples verdade. Simplesmente não dá pra ficar longe da vida dela.

Naquele dia, ao me questionar novamente sobre nos dois, percebi que nunca estarei em plena paz ao seu lado, eu sempre irei me estressar, sempre vou perder a cabeça, mas tudo valerá a pena quando ela encostar a cabeça em meu ombro e dizer: eu te amo.

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 11/12/2014
Reeditado em 11/12/2014
Código do texto: T5066221
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.