Alma liberta

Eram malas e malas esquecidas. A vida morava ali naquele sótão,naqueles pedaços de couros envelhecidos pela tristeza, porque a tristeza enruga tudo que toca, corrói.E eles não queriam mais viver com ela,a partir daquele momento decidiram colocar um ponto final, desenterrar o passado e se livrar dele.Na primeira que abriram acharam as fotos do nascimento, os primeiros passos, os brinquedos espalhados pelo quintal, as travessuras nas árvores, e não sabiam se riam ou choravam. A primeira já fez os corações baterem acelerados.Mais uma e pularam pra adolescência, pro baile da escola, seu primeiro terno,sua bebedeira no bar da esquina, a briga com o melhor amigo. E mais outra, e outra e a vida foi passando como um filme,relógios, óculos, pedaço de lápis, caderneta de anotações,chupeta,bicho de pelúcia, fotos e mais fotos, a vida do rapaz estava ali, e ele não. Saíra pra comprar cerveja em uma noite quente e de fato os ânimos estavam quentes no quarteirão, a polícia procurava um assaltante que escondera nas redondezas e na troca de balas Rodrigo foi alvejado no coração e morreu junto com seus sonhos, seus medos,seus muitos anos de vida.E naquele momento,naquele sótão sua alma se libertava porque seus pais voltavam à vida.

Regina Sorriso
Enviado por Regina Sorriso em 12/02/2015
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