Volátil

Resta só mais um dia triste,

os outros virão mais alicerçados

e acaso me esqueça

ainda me resta um pouco de vigor

pra seguir esta redenção plena de fulgor

avisem-me por onde devo eu seguir

porque nestes caminhos traçados

inocentes e esmiuçados à tangente

prescrevo a retórica delimitada

nos ecos e sussurros da voz

quase rechaçados no tempo

onde me perco neles

em reflexos corroborados em cada gesto teu

Sabes,

está aí a chegar o inverno

e derrama-se pela minha cidade

os mesmos problemas já fadados

deste tempo tão moderno

subalterno e transversal

ao trânsito que se esvai nas

artérias desta vida entupida

às vezes magistralmente penosa

cheia de paralelismos e estrofes

intemporais

e rusgas pela mentira

em detrimento da verdade

Estejamos pois cientes

que no exacto momento

faça sol ou chuva

cerraremos as portas ao dia

tão sarcástico como a solidão

que me impregna cada lágrima

assim derramada

e velada no protagonismo

que a vida tece a cada metamorfose

Resta assim tudo

como assim tudo nasce e morre no Outono

a cada passo onde me abrigo

do gélido Inverno que me consome monótono

e a caridade até já deixou

de ser uma rotina

perdida no orçamento da vida

pois assim se constrói

o meu subúrbio ordenado

pelo casario fragmentado

entre as colinas solitárias

onde por fim se funde este poema

tão decepcionado e inútil

embargado agora no meu silêncio

quase, quase, espoliado e tão volátil

FC

Frederico de Castro
Enviado por Frederico de Castro em 16/02/2015
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