Abismos Eternos
O céu acordou num vermelho triste
O mar está parado, congelado pelo frio do luar
O sol está se escondendo de vergonha
A lua emana através da sua penumbra
A tristeza de enxergar a vida acabar.
As flores secam e caem em desalento
Os cavalos não correm nem tentam levantar
A melancolia tomou conta de todos
Neste mundo que está em chamas
A minha frente a desabar.
Nem as sombras das nuvens cinzentas
Nem o frio do inverno me toca
Parece que nada mais me importa
Eu quero evaporar
Desaparecer em ruínas
Me perder em dores passadas
E talvez me encontrar em algum rastro
De um lugar ainda não habitado pelos humanos
Ainda guardado em sagrado
No coração de todos os desalmados.
Os vales parecem esconder a beleza
Antes vista pela minha alma
As montanhas derramam lágrimas em névoas
Os desertos me inundam do seu nada
Eu me afundo em suas areias movediças.
E já não posso mais falar, gritar ou chorar
Meus olhos gritam o meu ultimo desespero
Eu me vejo sofrendo calado
Sangrando sem chance de uma cicatriz
Asfixiado em meu pranto seco.
Toda a minha dor é abafada
Pelos semblantes alheios
Eu me desfaço nesta assombração real
Eu não me vejo mais
Nem me sinto
Nem mais existo.
Eu torno-me as pedras
Que encontro em meu caminho
Eu me torno aquilo que sempre desprezo
Eu já não sou mais real
Nesta representação falsa e podre de mim mesmo.
Então eu abraço os meus demônios
E não os vivo em negação
Sem a destruição deles
De nós mesmos
Não haverá reconstrução.
Não haverá um novo início
Um novo ciclo,
Um novo recomeço
Neste imenso vazio que absorvo do mundo
Neste abismo eterno que criamos a cada segundo.