O Barco do Mundo

O arvoredo sussurra a angústia das folhas

Que caem pesadamente contra a terra

Em um chão úmido de suas lágrimas

Cantam suas tristezas.

O vendaval do outono anuncia

A escuridão fria que me congela a espinha

O chão está perdido entre tantas histórias secas

A decadência de nossas atitudes assopra

Em meus medrosos ouvidos,

A sua iminência.

Em meu coração já se encontram as pétalas

Das rosas castigadas pelos espinhos da solidão

E caem esmorecidos,

Cada caule que já não suporta

E nem mais aguenta

Tanta infelicidade e indiferença.

E eu contemplo sem vida esse esvaecimento da existência

Onde não há a muito tempo

Nenhum florir.

A lua não brilha cintilante

Há uma sombra ofuscante

Que apavora a alegria das estrelas

Dos montes a sensação de cansaço

Dos galhos secos e frágeis

A alma implora por um pouco de espaço.

Nada mais me toca que a luz sombria

Que emerge na penumbra

Nada menos me prende a alguma ilusão ou promessa

Desde que nasci anseio por um novo tempo

Desde que entendi que o tempo não existe

Tenho desistido de quase tudo e todos

Sem um raio de sol de verão

Que me ilumine e me traga esperança no vento.

Desde que entendi o percurso da vida

E os caminhos que ela pode me levar

Tenho contemplado a tristeza da natureza

Que se cala sempre enfurecida

E que a cada ciclo destrói tudo aquilo que destruímos dela

Por amor e submissão a avareza e paixão por poder

Desde que compreendi os maus destinos

Tenho acreditado menos em mim

E mais nos meus sorrisos.

A rua é um perigo

Antes eu brincava de me esconder

Agora me escondo de todos

Para tentar sobreviver.

E no fim do mundo

Ninguém compareceu nem sentiu

Todos estão cegos e surdos

Em seus respectivos dispositivos

Todos estão fugindo de si mesmos

Em busca de uma nova mentira

Uma nova versão da coletiva loucura.

E nesse barco eu não vou

E desse barco eu não quero nada

A não ser manter minha essência

Perante uma vida regrada de aparências.

Minha ações não foram totalmente vencidas

Nem vendidas a uma promoção

Meu destino é um passo a frente de todos

Sempre voltando ao começo para não ser devorado

E assim, tentar fazer da ilusória vida

Algum sentido enquanto me restar dúvidas

Enquanto me restar algum rastro de vida.