como faca afiada
corto o trânsito
de carros transparentes,
ruas sem chão,
pessoas sem rosto,
caminhos para...
(pra onde mesmo?)
 
o Sol me toca e é todo meu, só meu
hoje ele nasceu por mim, sinto, sei
e vibra na dança do tremor da pele
e a pele, incontida, vibra segredos
 
"Something" no CD, cigarro nos dedos,
mão descansando, suave, ao volante,
levando a carruagem por espaços etéreos
o sinal fecha... e já nem me irrita
o homem atravessa lento... e sorrio
o guarda mal-encarado...
nada me atinge... a vida parece em música
 
minha "carruagem" flutuou nas linhas das ruas
mas eu sigo a lembrança da noite, a imagem:
o decote que mal esconde o seio
- e eu o desejo macho
o seio que mal esconde o coração
- e eu o desejo homem
 
lembro que li, em algum lugar,
que felicidade é assim.
sorrio, muito, mesmo
a rotina do dia abre seus braços
mas eu vou sorrindo, criança
 
abre-se o sinal, em verde,
apagando o vermelho
e nenhum vestígio do amarelo-atenção
primeira, segunda, terceira, quarta, quinta ...
cruzeiro...