A vida diante das impossibilidades

Já se passaram tantas estações

Tantas emoções me esmagaram

Em meio a tanto sofrimento

Eu cresci a custa de tanto dor

De tantas culpas e ferimentos.

Penso no que seria

Se você estivesse aqui

Crescendo, correndo na rua

Sorrindo como sempre

Pra mim.

Penso em como você estaria:

Alegre e contente?

Ou desiludida e carente

Como muitos a minha frente?

As coisas caminham de maneira injusta

Lembra de que quando sonhávamos

Em mudar e salvar o mundo?

Então,

A gente cresce e mundo muda a gente

E no dia a dia a gente luta

Resiste a maldita angústia

Mas para se salvar.

Eu já não possuo tanta força

Nem inocência.

Nem o meu sorriso

Às vezes consigo manter

Eu não sei fingir tão bem

A dor é de adoecer.

Eu não sou tudo que sonhei

Nem alcancei a metade do que eu quis

Eu não sou tão grande assim

Como o quanto eu desejava ser.

Em noites silenciosas

Penso em você

Penso em como você deve estar

Em como você enxerga as coisas daí

E como sabe lidar com a luz

Que nada clareia

Mas que tudo sombreia.

Desde da última vez que te vi

Pensei que não conseguiria suportar

Mais nenhum um momento

Sem o teu calor

Sem o teu cheiro

Sem o teu carinho.

Por outras vezes tentei me juntar a ti

Mas o destino não quis

O futuro ainda me aguardava

Mesmo quando a minha face se esfacelava

Enquanto o meu espírito congelava

E a minha alma sangrava.

Mesmo em crise e afogado em mágoas

Eu caminhei sobre e ao lado

Da sombra da morte

Nem sei como resisti.

Quando te vi pálida, paralisada

Sem um sorriso, nem uma gargalhada

Meu coração se escureceu

Desde então eu obscureci.

Te ver sendo enterrada

Cheia de sonhos e energia

Ver a alegria do meu dia a dia

Sendo sufocada por vermes e terra fria.

Foi a primeira e a minha pior morte

Foi o dia em que eu vi minha esperança

Sendo sepultada viva.

Mas hoje eu sei que você está ai em cima

Me conduzindo com o teu amor de amiga

Me abençoando e me iluminando

Nos dias nublados com lágrimas cinzas.

Hoje eu te vejo e te percebo

Entendi que para eu continuar

Eu precisaria da tua mão

Junto a minha

Mesmo que em outra dimensão.

Sem luz,

Aprendi a enxergar e aceitar:

A glória diante do fracasso

O otimismo diante das perdas

O futuro diante das derrotas

A angústia e a alegria

Diante dos gestos ingênuos das crianças.

Acima de tudo aprendi a suportar

A melancolia que me faz cair de joelhos

E me entregar aos desencantos alheios

Me fazendo prostrar

Diante do reflexo sujo

Que surge em frente ao espelho

Diante do meu espírito enfermo.

Hoje percebo que você se foi

Para que eu ficasse

E assim eu continuasse a buscar

Aquilo que sempre ansiei:

A paz perdida no caos

A lágrima sufocada no ar

A esperança diante da incredulidade

O sorriso diante das nossas impotências

A vida diante de todas as impossibilidades.