Zero

Não sou de quem espera ligações. Havia um tempo em que somente a fantasia romântica fazia parte de mim. Desencantei. Recebi as ligações daquele que chorava e implorava por mim. Implorou em vão. Desliguei-me de tudo que tinha relação ao que me perturba, que suga minha energia. Não sou de quem espera ligações. Meu número é o zero, caso queiras me ligar. Atende a minha indiferença. No entanto... sempre há um "no entanto". No entanto de ti não espero uma ligação, tampouco lágrimas. Seria eu realmente um zero a ti? Uma transa, um afago, um te amo. Há intensidade para mim. Tu não vês. Eu não quero a porra da ligação. Não quero ser um zero. Não quer ser um número descartável. Mas o fado da rejeição me persegue - eu sou um zero. Sou aquela que cai no plano e quebra o nariz, que onde pisa se esvai. Uma junção problemática, ou como diria a sábia: uma bola de ping pong que vai de um lado ao outro sem finalidade. Queria poder ser mais, mas minha energia é escassa para eu ser mais que o lixo que sou. A fantasia nunca existiu contigo, a realidade nunca permitiu criar quimeras acerca de ti. Esqueci-me... esqueci-me de que meus problemas são imensos quando unidos aos teus. Rejeição é somente a consequência de inserir todas as minhas energias em ti. Nada disso soa poético por ser real, puramente real, mas nas entrelinhas há poesia... tal como tu. Apaixonei-me pelas entrelinhas. Apaixonei-me demais. Entreguei-me a quem não quis entrega. Perdoa-me pela minha intensidade. Sou humana demais, mulher demais. E tu odeias a humanidade, e eu gostaria de te odiar. Em vão.

Eu acendo mais um cigarro. Tuas entrelinhas agora machucam e mais dor era prescindível a mim nesse momento. Em todos os momentos. É-me insípido fumar dez enquanto espero nada além de não ser mais uma. Não posso ser uma... sendo um zero.