Silêncio

Numa caixa escura e asfixiado

Eu me perturbo com tanto barulho

Esses anseios,

Esses medos

Estes desejos sustentam

Esse eterno caos desenfreado.

Entre estalos da madeira eu me calo

Enjaulado em meus traumas eu me entrego

A esse torpor insano insistente

Que dia após a dia anuncia o meu fracasso

A minha fiel angústia diante da minha miséria

A condenação da esperança num mundo humanamente escasso.

A lua cheia me convida a melancolia

Os corvos anunciam com os seus cantos sombrios

A separação entre a vida e a morte

Entre o desejo e a redenção

Entre espinhos que sangram nas artérias da alma

Deste moribundo coração

Que pulsa em suas mãos.

A madrugada insiste

E a dor ainda persiste

Em encontrar a sua cura

Num deserto infértil de compaixão.

Eu me sinto preso a toda essa tristeza

Que me inunda de ondas violentamente pessimistas

Então eu sinto toda a maldade do mundo me invadir

E os desejos altamente suicidas vem me consumir.

Na resignação eu não me enxergo

Na concessão para sorrir eu me vendo

A maquiagem ilumina o falso sorriso

Que esconde e sucumbe a dor de existir.

Num lugar onde tudo é negociado

A minha essência não pode falar

A minha experiência se cala

E a minha existência põe-se a afligir.

E nessa caixa eu escuto mais

Os meus olhos que sangram minhas lágrimas pretas

Dizendo que ainda há muito mais por vir.

Minha presença aqui não se faz

Minha ausência não é percebida

Meu nome logo será esquecido

Enquanto eu caio profundamente

Nesse mar escuro e solitário

Cruelmente adoecido.

Gritando sozinho

Enquanto eu afundo em meu cais

E todas as minhas ilusões e sonhos

Serão sepultados logo mais.

Quem se importará com a dor de um espírito entorpecido?

Quem se importa com a dor de um desconhecido?

Silêncio.