Marinheiro Só
 
Estamos há mais de um ano a deriva, e a cada momento que passa a gente fica no esquecimento. E é tanto que eu acredito que a nossa história dá um bom best-seller porque fora escrito por heróis que vieram pra cá com o intuito de edificar. E por causa de algum motivo que eu não sei o quê, nos colocam de lado, como se fossemos trastes. Nós que já adentramos entrelinhas, por mares  que decerto foram revoltos e agitados, indo de um continente a outro.
Pasmem que fomos os primeiros a chegar aqui, onde tudo parece que já nem mais temos vez. Exemplo disto, eu mesmo dou. Acostado próximo a uma parede defronte a uma rede eu descasco batatas como se fosse um marinheiro esquecido de minhas venturas. Pois os mais jovens nos sufocam imaginando este momento ser somente deles. E dentre tantas marolas vemos aquelas meninas que foram nossas amantes tirarem o que nos restaram alegando algo que nem sequer nós que certo dia fomos seus desbravadores, nem sequer mais somos merecedores.
A vida continua, o barco segue mais adiante, e consegue ir mais além do que certo dia nos dissera, no entanto nos encontramos estagnados imaginando como será o amanhã para nós que nos vemos de escanteio. Por isto, meus caros será que temos que pendurar nossas chuteiras?... Deixar que alguém de agora em diante, faça nossos gols. Pois quando olho no espelho vejo que estou ficando velho e acabado, espero chegar ante eu  consiga logo te encontrar.
E depois de tantos percalços, hoje eu sou constantemente levado no papo. Já não consigo respirar o ar que me dá vida porque alguém nos cortou as asas. Não podemos mergulhar porque nos tiraram toda graça. Enfim, já nem mais acredito que nós marinheiros temos um amor em cada porto. Posso até concordar quando tudo parece ser normal comparado ao que passamos.  
Gente, fomos levados no papo, salvo alguns que de alguma maneira conseguiram passar pelo fundo da agulha. Pois, no Brasil o fundo do poço é apenas uma etapa. E sendo ainda temos muito que contar.