DE MÃOS DADAS

Abri o ferrolho da porta

Olhei cautelosa pelo olho mágico

Nada ao alcance dos meus olhos

Que possa me ferir

Que possa me atingir

Ansiosa

Destranquei o cadeado

Nada pode dar errado

Puxei a maçaneta e

Num sobressalto

Abri

Primeiro saiu a tristeza

Indecisa

Sem saber se voltava

Ou se partia de vez

Na incerteza de ter esquecido

O que não se deve esquecer

Traiu a felicidade

Que lhe fazia todas as vontades

Fazendo da alegria

Eterna refém

Depois foi embora a mágoa

Levando atrás de si

Sua colcha de remendos e retalhos

Em cada babado, em cada retângulo

Os sobejos do que fomos

Gozo, amor e dor

Por último, veio a saudade

simples

verdadeira

e nua

Como toda saudade deve ser

Mas lhe bati com a porta na cara

Nem a saudade eu quero aqui

Quero mesmo é que vá embora

E que leve tudo o que é seu.

O sorriso,o cheiro,o abraço

Para que nem o tempo me dê tempo

E muito menos espaço

De pensar numa volta

Abri a porta

Não há mais nada seu

Resolvo sair

E quase tropeço nela

Que sempre esteve ali

Esperando por mim

Suplicante

E de braços abertos

Bato a porta e saio

Sem olhar pra trás

De mãos dadas,

Com a Vida!