FOTOGRAFIAS OFERECIDAS A MIM

Passei a achar tudo fútil: as roupas brancas e limpinhas, os penteados, as moças inchadinhas querendo atrair os rapazes, selfies vazias, palavras nulas, andar pseudo-confiante, sobrancelhas levantadas e de novo a falsa estabilidade da vida, o uivo humano no quarto escuro e a gargalhada online.

Os anjinhos, famintos, me olhando, fixando toda a fé em mim, admirando a cor da minha pele, invejando minha sobra de gordura corporal, beijando minhas mãos macias, abraçando minhas costas, falando ao pé do ouvido horrores reais que fecho os olhos na esperança falida de não ouvir mais, enquanto eu sentia seus ossos esfregando-se em meu corpo tolo.

O homenzinho de nove anos, decidido. Altruísta. Ilimitado. Pontuado. Coagido. Herói. Vítima. Deus. EGO. Crente. Libertário. Rebelde. Homem de nove anos. Homem fome. Homem sede. Homem morto.

Tudo isso contradizendo o que eu havia aprendido; os vidrinhos de remédio, vazios, dores crônicas, pressão alarmada, inatividade dos membros inferiores, eu invejando-os pela morte breve, eles querendo um espaço em meu coração, na minha mesa e no meu copo. De repente, me dei conta que tinha perdido todas as minhas chaves: a água benta, um paraíso e duas lindas flores. O medo está sempre na minha cabeça. Eles gritam meu nome, mas não posso respondê-los, sigo a diante, pois nosso tempo morreu. Transfiguro-me para um ato pensante, então, “take me, drink me, love me, one more time, hit me, fuck me, trust me, I beg”.

Digo tudo isso, eles observam meu sotaque estrangeiro e meu ar de arrogância e me atiram para a escuridão. Eu ainda rezo ave Maria todos os dias, mas agora os meninos têm o meu coração e minha alma sob controle. Não nasci assim, já fui livre. Mas Ruanda, Sudão, o continente africano em si, sacrificou minhas esperanças.

O homem é impulso, cultura, maldade e sexo. É a insatisfação de um livro mal escrito, o aborto de um bruxo, o orgasmo que não veio e a tentativa sempre falha de encaixar-se em algum lugar.