Aurora

Aurora dormia. E o céu se abria de modo miúdo. Flores enfeitavam a rua cinza.

O Sol meio tímido, meio amarelo e meio galanteador fazia o rosto frio de alguém sorrir de gratidão.

A natureza cuidava dos humanos como sempre. Aurora foi despertando.

Abriu os olhos, levantou a parte superior de seu corpo com a ajuda das mãos.

E sentou.

Sentia o ar, sentia a vida e a morte-vida.

Não sentia a ausência de coisas.

Nem a presença de outras.

Sentia sim o aroma do mar.

Seria ela em consciência tudo o que quisera.

Não seria ela a inconsciência de si mesma.

Aurora clareou.

Levantou de fato.

O chão gelado sob a pele vulcânica teve o toque de vida em seu nada orgânico.

Ela pulsava vida, e morte.

Lembrou-se de coisas importantes.

Árvores, terra molhada e chuva.

E antes de todas essas coisas, de um sorriso.

E antes do sorriso, o dono do sorriso.

Ela mesma sorriu com a lembrança do sorriso. Aurora gosta de sorrisos.

Aurora não gosta de qualquer sorriso.

Mas percebe bem cada sorriso.

Tenta decifra-los. Mas não se esquece do mais bonito dos sorrisos.

E o sol a corteja.

E os pensamentos afloram, como as florzinhas do parque.

Mas mesmo assim prefere o silencio.

Se cala na mente. Espera a nudez de cada som.

E fecha os olhos. Seu coração é a rua de trás da praia.

Ouve o barulho, mas prefere não ver.

Senti o aroma mas o senti na alma em primazia.

Se abastece.

Se fecha e se abre.

É a troca mais antiga do universo.

Inspira, expira.

Senti o medo e a alegria.

Aurora não é admiradora de modas, por isso se declara em prosa.

Brígida Oliveira
Enviado por Brígida Oliveira em 06/07/2015
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