Madrugada de 25 de abril de 2015

(com um que de Bovarismo e um quão de Marx)

Não se diz ganancioso, apenas não se contenta com pouco; só não percebeu ainda que também não se contenta com muito.

Uma corda:

Já baixou a noite, deitado e cansado vejo pela janela as estrelas sorrindo no céu;

Faz um frio atípico que pode futuramente principiar um temporal.

(tem sido a poesia que me invade e, em alarde e envaidecido, sigo saciado na sua maestria).

Já fiz minha leitura noturna, escovei os dentes e bochechei o enxaguante bucal.

Vou até a cozinha e abro o freezer deixando sair aquele bafo de fumaça gélido e gostoso, pego um copo comprido e coloco gelo até a borda e na porta pego a garrafa de vodca (resfriada/intensa – branca/alva – coloidal/viscosa – irresistível/fatal).

As asas querem voo, me incomodam, querem que eu volte à leitura ou pegue a caneta.

Mas com o copo na mão e o líquido na cabeça: estou de muleta.

Um acordo:

Fiz um acordo certa vez, um pacto com um dos meus medos e com o mais forte deles.

Nosso encontro foi em sonho: eu solitário no mar com ondas gigantes – é impossível estar sozinho quando se tem ondas gigantes, mas eu estava –, nada de terra em volta, nada de ilha nem sequer um barco. O medo voava enquanto soltava uma forte chuva sobre mim e soprava um vento muito frio e extremamente forte, no estilo terral, que fazia nas ondulações pequenas chuvas ao contrário. Era um cenário “Hitccokiano”, só um pouco pior, que parecia durar uma eternidade; eu gritava a ele para deixar-me livre, para expor a verdade, para não me enrolar mais... Ele concordou e eu então acordei.

Quando o tempo passa em branco é como estar alegre na jaula o Corvo; se acomodando no contrassenso de ser castrado da liberdade do voo.

Um acorde:

Pego minha faca importada, minha faca de guerra, sento na varanda ao relento e começo a amolar – é um bom passatempo. A madrugada grita em silêncio, os cães das casas vizinhas e os daqui fecharam suas bocas sorridentes e babonas. Agora falta pouco, falta o parco: um mar, uma vara de pescar, uma lua cheia, inspiração e um barco.

(pássaros que vem e que passam também são os pássaros que ficam).

André Anlub