Quem Sou Eu?

Eu vivi intensamente, em tempos remotos.
Sou antigo e, talvez por isso, esteja morrendo.
Sou do tempo em que a palavra tinha valor,
E a honra, era muito mais que uma simples palavra no dicionário.
A vida tinha preço inestimável,
Se é que podia ser avaliada...
Mulher era sinônimo de dama
E o homem era cavalheiro.
Ah! Bons tempos foram aqueles!
Tempo em que a família foi o estandarte social;
E se unia à muitas outras na Igreja Matriz,
Única, nas pequenas cidades!
Eu sou do tempo em que a fé era universal,
E o Deus do universo era único.
Sou do tempo dos pais dos pais que ai estão,
Do tempo das cantigas e reuniões familiares em volta da fogueira...
Do tempo em que o abraço exprimia afeto,
E o beijo  representava amor, carinho, proteção...
No meu tempo, filho não batia em pai,
E marido venerava a esposa, rainha de seu lar.
Sou do tempo em que favor não se cobrava,
Mas era pago com a melhor das moedas, a amizade.
Naquele tempo, eu reinava soberano,
Era amigo de todos, e todos me estimavam.
Eu mantive casais e famílias unidas até a morte,
Eu principiava o amor e convivia com ele,
Em todas as relações, em todos os contratos...
Eu estava entre os homens,
Vivi entre os casais, entre os pais e os filhos,
Entre o fraco e o forte, o rico e o pobre,
O velho e o jovem, o homem e a vida...
Hoje, usam meu nome para representar medo,
Opressão imposta pela força, arma dos poderosos,
Que a outros poderosos me apresentam,
Mas já não sou eu, é meu sucessor,
Porque eu estou morto,
E quem me prezava, está morrendo comigo,
Enquanto vou, com eles,
Pra sepultura do esquecimento...
 


 
Edison Mendes
Enviado por Edison Mendes em 25/08/2015
Reeditado em 25/08/2015
Código do texto: T5358288
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