OUVIR O SILÊNCIO

(Claude Bloc)
 
Há dias em que saio de circuito. Fico quieta, me desligo do mundo e procuro manter-me sozinha. Até gosto de ouvir o silêncio nessas horas. Até suporto a música do tempo escoando pelas minhas têmporas.
 
Creio que é isso que muitos escritores sentem quando impulsionados a escrever. No meu caso, posso dizer que é assim que entro em sintonia com os meus pensamentos. E não posso considerar que esta seja uma atitude nociva se opto por sentir-me assim, em apenas alguns momentos da vida.

Esses momentos constituem-se simplesmente numa pausa entre um momento e outro, pequenos períodos de esvaziamento de mim mesma, uma espécie de solidão que não vem associada a sentimentos de tristeza e nem também, me passa nessas horas, uma sensação de abandono. Pelo contrário, é quando me dou conta de que preciso de outras pessoas por perto. Mas não exatamente naquele instante.

Posso garantir que a ideia não é querer afastar-me do mundo, mas permitir-me ficar sozinha, por querer apenas desfrutar, um momento que seja, de puro isolamento, mas isso tudo, de fato, como uma escolha consciente. Um momento meu, para dar rumo a minhas ideias!

Depois, quando retorno do meu “exílio voluntário” e tendo recuperado a energia positiva que precisava pra tomar decisões importantes, passo a viver mais intensamente essa proximidade comigo mesma , em atitudes antes inexploradas.

A minha solidão passa, então, a ser uma experiência, especificamente simbólica, pois não me excluo do mundo em sua dimensão física. Eu simplesmente usufruo de minha própria companhia...

É que às vezes no mundo há muita balbúrdia e nessas horas me recolho para me encontrar.