A. Maria

Foi uma atitude impulsiva: cheia de ódio, raiva, sentimentos de pura humilhação. Estava sendo ruim, má como nunca fora antes. "Que tudo vá pro inferno, até eu." Mas assim ela não podia deixar. Seus olhos paravam, corriam rápidos, paravam, fixos, novamente. Não percebia que tudo aquilo era errado e queria seu sofrimento. O tempo passava e cada vez mais ela ia se transportando para aquele interior nefasto, ardente desejo de vingança. E o sufoco parecia aumentar. Pediu para que eles morressem, sumissem.

Aconteceu, mas não completamente. Sua vontade foi tão forte que ela conseguiu, mas não como deveria ser. Aí voltou sua razão: "A culpa, só minha." Como tinha sido ela capaz daquilo? Que não tinha volta... que ninguém sabia, que só ela queria. Machucou tanto. Arrependimento, pesar, remorso, desespero. Solidão. Uma insegurança enorme, nojo de si mesma, medo de ficar aqui, vontade de desaparecer.

O mundo girou como deveria. E hoje, ela ainda pensa naquela ferida, e os que sabem, a olham com desprezo. Agora ela está lá, com sua família. Olha e pensa em todo o mal, distraída. Sorrindo ligeiramente, falando sem pensar, se fazendo de interessada, com um olhar distante e uma bandeja de servir café.

E em todos seus meios, aquele vermelho vivo.