Consumou-se a tragédia

Meus olhos encharcados insistem em despejar o que minha boca não ousaria dizer nem por um segundo. As minhas mãos suadas são o retrato da mais atormentante das companheiras - a ansiedade. E o coração apertado, nada mais que o resultado de um amor incrustado e desperdiçado. Consumou-se a tragédia. Não sou nem metade do ser humano que um dia quis ser, mas ainda assim mais humana do que fui ontem e menos do que serei amanhã. Perdi muitas coisas, de outras apenas me desfiz, na breve tentativa de substituí-las. Besteira. Nada é substituível. A Criatividade, velha amiga tão logo partiu, assim como vários outros amigos meus. Não os culpo. Sempre é chegada a hora da partida. O maior problema talvez seja o fato de nunca estarmos prontos para coisas do tipo. Deixei de transbordar poesia. As palavras se tornaram dispensáveis. Poucas coisas me transcendem. E o meu refúgio eu construí sob um lugar inatingível e imperceptível. Transfigurei-me em silêncio.

Paloma Rafaela
Enviado por Paloma Rafaela em 14/10/2015
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