AS PÉTALAS DAS ROSAS QUE TE DEI

AS PÉTALAS DAS ROSAS QUE TE DEI

As flores não eram tantas, mesmo as poucas rosas que colhi do meu jardim formaram um bonito buquê que tinha a exclusividade de ser teu. Não as comprei, carinhosamente, mesmo sentindo a ação de seus espinhos fazerem sangrar as minhas mãos incompetentes para o trabalho da jardinagem, eu as colhi, eu as beijei uma a uma, como se estivesses em cada pétala, com esmero construí aquele ramalhete a que eu chamaria de feixe e levei a entregar-te em nome do amor. Recebeste-o, inerte à ação do romantismo, apenas ouvi murmurares um amargo agradecimento; ali ficares me pareceu, me fui, com a simplicidade de um rápido “até mais” na troca de olhares triste o meu e sem nenhum brilho o teu.

Apenas um curto período de tempo passara-se e na torturante ansiedade de revê-las, eu a amava muito, voltei onde estivemos e vivemos aquela emoção desconexa; não mais a encontrando. Mas... Despetaladas sobre a imundície de um solo sujo, lamacento, sem o aromático e romântico odor, ali ainda via-se, das pétalas das rosas que te dei, resíduos moribundos, já sem vitalidade, que também ceifara e fizera desmoronar sobre si, impiedosamente, o meu grande castelo de fantasia e ilusão, mas alicerçado de verdade e muito amor. Fantasia e ilusão por ti constituídas, porque em mim havia a pureza de um amor que pensei sólido, mas que se desvencilhara da realidade de um sentimento forte e pungente que em mim nascera, crescera e que por ti fora trucidado com os requintes da mais cruel tortura. A vida continua, não posso, não devo e nem quero ceifar.

Busquei no tempo esquecer os pormenores, mas não é fácil, a memória é insistente na permanência de uma lembrança em sua totalidade; tento fingir a mim mesmo na tentativa de me dispersar da cruel realidade, não consigo, parecendo ver, onde quer que pouse meu triste e amargurado olhar, qual um fantasma, andarilho a vagar nos caminhos dos meus pensamentos, pedintes e carentes as pétalas das rosas que te dei; elas já não existem em sua estrutura física, o tempo as transformou no nada, sumiram, apagaram-se qual leves traços de giz soprados pelo vento, poeira, pó, nada mais, porém, nos guardados da minha mente lá elas estão entre as tantas outras lembranças que se aglomeram e nos provocam com um visionário fantasioso, irreal, mas que nos fazem ver e sentir como se existissem. Apenas você que jamais vi depois daquela triste mas inesquecível situação quando despetalastes e atirastes ao solo, com desprezo e desdém, as pétalas das rosas que te dei.

Somos apenas, o que somos e nada mais que isto; mesmo nessa hipótese da nossa realidade, a realidade do ser e do ter, o confronto com o irreal, embora que na transição momentânea dos pensamentos, dos devaneios, das suposições em um mundo do faz de contas. Não apenas foram quando reais, mas ainda o são, embora que imagináveis amargos e sofríveis vividos em minhas recordações, naqueles momentos desde a minha colheita, a entrega com carinho à amada e o trucido pelas mãos cruéis em desamor às pétalas das rosas que te dei. O tempo passa e não retroage, mas nem tudo consegue levar consigo, A vida continua onde somos estagiários; procuremos, portanto, aprovação em cada teste em que sejamos imbuídos.

(Carlos Celso Uchôa Cavalcante)

14/outubro/2015

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