A Semente Que Dá Saudade

Sopra o triste encanto

O vento da paisagem perdida

Houve-se as aresta da vida

E a fina lamina dos entalhes do artista.

Teresa Cristina Monteiro

Dedicatória

Dedico este livro a todos os portadores de síndromes amorosas, saudosas, enfim a todos que procuram que pedem que batam alguma porta, a todos que buscam.

“O aprofundamento do livro encontra-se na grandeza do entendimento”.

Em memória de todos que gostam de escrever.

Agradecimento

Agradeço a todos que de alguma forma contribuíram com uma ideia, uma palavra, um olhar bom ou mau, mas que fizeram parte de alguns pensamentos.

Dedico também a quem me lê e pode sentir a vida sem preconceitos, sem má vontade, sem ira. A todos que ajudaram, acrescentaram momentos, palavras, atitudes que me fizeram sentir amor, amizade e respeito.

INTRODUÇÃO

O que escrevo pode não servir a todos, mas é um pouco da minha mente. É a parte que posso doar.

Escrevo o que vejo, sinto e penso, o que imagino e vivo.

E é criando e desenvolvendo ideias que alcanço a mim mesma.

Como quem escreve, não tenho sexo definido, não tenho idade. Sou o que o momento me apresenta.

Neste escrito germino, floresço e fecundo. Algumas vezes chego a sucumbir, mas até a morte não vai significar um fim, mas apenas mais um meio as reflexões.

Enfim os pensamentos, as consecuções, as rotinas, saudades, os amores, desamores, os conflitos, tudo leva a busca real de por os pés no chão e olhar os caminhos da vida de frente.

***

Irei sair. Deixarei para trás tudo o que construí. Então pressuponho não quero ser pó e nem rastejar como verme nesta infertilidade. Será assim eternamente? Continuarei a andar, a mudar, a acampar. Por que não plantei nenhuma arvore, não criei raízes? É preciso pensar e saber que tenho sentimentos, vontades e vivo as saliências do cotidiano. E o meu ego gostaria de ser lembrado. Necessitava ouvir sua voz, ver sua imagem ou acordar desfrutando a sua presença em minha vida.

Volto à razão e saio do mundo de sonhos. Mas, sonhar é um momento de sabor definível na vida.

Não é delírio é sonho.

Lembro-me da fisionomia de meu pai citando meu espírito de cigana, havia prazer na entonação de sua voz, quando falava da coragem e independência e certa dor e tristeza pela minha ausência.

Às vezes sua voz pesava emotiva ao telefone e não dizíamos quase nada. Mas, divertia-se com as minhas emoções, temperamento e observações.

Uma vez disse: que não teria a coragem, ou seja, lá o nome que tenha, de deixar sua terra e sua família.

Mas o que procuro encontra-se em uma saudade não sei de quem, numa angustia que aperta o coração.

Busco o que ainda não se definiu. Talvez nunca se materialize. O desejo de escrever pode estar em alguma parte do mundo e não dentro de mim!

Nos meus sonhos ouvir falar em metades, em luas que se completam e o radar do inconsciente, que é o mais consciente, leva-me a uma saudade infinda.

A rotina bem trabalhada assume um caráter estimulante, estou tentando o que não me deprime.

Temperamentalmente não consigo coisa alguma.

Certa vez acreditei não possuir pecado. Pensei um dia inteiro nesta observação.

Lembrei que para a melhor coisa deste mundo. Como muitas vezes emocionado um amigo me mostrava alguma cultura de bactérias e seu aroma característico.

E esta vontade de escrever sente saudades.

***

Aumenta a saudade, e vejo o nome de ruas da cidade e vem saudade.

Andando pela rua, parei para cumprimentar um rapaz que tinha um caráter suicida, tentou a morte duas vezes e deu-me muito trabalho, depois veio as terapias, conversas, orientações. Não absorveu muito...

Volto a você que escuta, tem paciência de ler. Sei que somos amigos, nos entendemos, trocamos ideias e palavras. Você pensa, quer e tem sentimentos e também sente saudades.

Sinto-me bem humorada para não discorrer sobre a morte, não penso como algo preocupante. Tenho medo de não realizar as vontades e não descobrir com quem anda a minha saudade.

Acordo a noite, sinto fome. É uma fome que está em meu pensamento, na minha pele, no emocional. Não se sacia fácil, um querer mais que o aspecto físico, falta o complemento psicológico e as emoções.

Fui à missa esta noite, e no percurso fluía teorias sobre o pecado. Os pesos e as medidas de balanças taradas aleatoriamente, conforme crenças, tabus, pudores, a variação do peso por quem avalia. Enfim um quilograma é um quilograma?

Certa vez ou para ser especifica as duas únicas vezes que me confessei, fui absolvida dos meus pecados.

Você tem pecado? Acho que sim, mas tenho um pouco de duvida.

* * *

Não perdi os grandes defeitos. A mania de escrever a emotividade, as crises temperamentais, e alguns palavrões, de vez em quando.

Ontem, durante sua visita, vi e ouvi você discorrer sobre os encargos dos meus problemas.

Não é difícil dizer que sinto prazer, em estar ao seu lado. Pensei em nossa conversa, você me observava, parecia querer dizer mais alguma coisa, conhecer meu coração e ler meus pensamentos.

***

Saiba que tenho tido saudade dos seus abraços e do calor da sua boca que nunca tive. Quantas vezes em sonhos nos pertencemos e havia muito amor. Sentes saudade e pensas em mim? Consegue fazer ideia do espaço aberto em meu espírito e o que ocupo em você?

Passei a noite acordada. Pensei em inutilidades, força de vontade, na morte, na vida.

Virei e revirei na cama, andei pela casa, falei sozinha. Senti vontade de abrir a porta e andar pela rua escura.

Olhei o futuro... Pedi por meus filhos. Conversei com Deus. Esta noite a angústia oprimia o meu peito.

Queria ser amada...

* * *

Descobri que para se descartar do que compromete, ou se torna uma pedra no caminho ou costuma-se explicar o inexplicável.

Faz-se o desentendimento, arrumam-se metamorfoses, dá-se o jeito de o tiro sair pela culatra.

Ainda existe aquele outro meio de dar uma resposta para uma pergunta que não foi formulada, ou de responder diversamente com sentido dúbio ou amplo para uma pergunta simples.

Existe também o desconhecimento e a utopia do descarrilhar a crendice popular.

Onde anda você, os princípios, a causa justa. Onde sepultaram nossos direitos?

Sobraram falsos valores. O sonho não existe e a realidade é pesada.

Somos produtos com rótulos pré-fabricados.

Passamos a pior das condições, somos quase excrementos de uma sociedade mórbida.

Quer respirar ou vai esperar acontecer, mas antes de me jogar no lixo ou de me queimar, ou mesmo de me guardar numa gaveta escura; pare um pouco e medite sobre você e o destino de sua prole. E quem sabe queira mudar.

Quem sabe comece a buscar uma saudade amiga.

Será tão difícil ver o campo e sentir o orvalho nas folhas. Acreditar quando alguém fala.

É por acaso tão difícil se assumir e assumir a vida, falar em amor e carinho, em paz e liberdade.

Você já viveu a solidão? A falta de um amigo, de um amante...

A solidão queima e deprime.

Queria um minuto de conversa, um afago, uma mão percorrendo meu corpo, talvez fosse bom fazer sexo. Alguém para amar? Será que eu mesma me amo? Porque não me dou? A mesma fuga a mesma ausência.

Deveria ser mais mulher, mais fêmea, enfim, um pouco mais prostituída.

Que falta... Um contato mais intimo, o peso do teu corpo, o suor do teu esforço, do atrito.

A saudade que espera o teu amor.

Faremos o amor do espírito se curvando sobre o complemento da carne.

* * *

Iniciava uma tarde, e estava só. Intranquila. Alguma coisa caminhava para um fim.

Era assim no meu espírito em turbulência.

Começava a morrer um dia que mal se iniciara. Pensar? Programar? Para qual determinado fim?

Fiquei assim e foi assim que o tempo passou...

Novamente esquecida de tudo. Este mesmo tudo que era um imenso mundo interior: Sou livre e minha liberdade reflete a minha consciência.

O coração era tal qual um trampolim e ao redor de mim faltava um complemento, uma gota d´água, uma pitada de sal, uma dose de pimenta.

Era preciso eu mesma saber de mim, como o cheiro de uma saudade inexplicável.

Saudade que eu comecei a entender, o aperto no peito mudando o ritmo respiratório.

Querer tanto, fazer pouco, poder quase nada. Enfim a cabeça rodou e tudo passou a confuso. Eu me perdia, no mundo de sonho e realidade. Talvez só quem gosta de escrever entenda tal estado de espírito. Era um transe, uma mágica, ia e vinha numa constante. Andava quilômetros dentro de casa, via o visual de cada janela, seu ângulo e encanto para a vida.

Assim terminava exausta e cansada.

***

Você entenderia, mas talvez não perceba o motivo que me leva a ir vê-lo. Nesta vida tive poucos amigos, mas de muito significado e que o tempo foi se encarregando que fossem ficando à beira da estrada ou que a morte fosse se encarregando dos destinos ou que os ideais de alguns os levassem a outras paragens.Mas é como se eu pudesse me alimentar da sua energia e disposta a lutar pela vida. É como uma osmose, a evidente permeabilidade do meu espírito para com você, mesmo sem recíproca. E quando me afasto, estou farta, alimentada. É uma força estranha querer vê-lo e ouvi-lo e algumas vezes tocá-lo. Que força me faz dormir pensando em você e até mesmo acordar nas madrugadas a imaginar você a dormir. Muitas vezes tento ultrapassar as barreiras que me limitam e vejo o egoísmo do ser humano se doando menos.

Em uma consulta um psicopata disse: Dissemos pouco, mas conversamos muito, enquanto se retirava do consultório.

Embora pouco diga é além das explicações. Escrever é a arte do espelho da alma é a ciência mais profunda. Apenas gosto por gostar. Estou no papel usando tudo o que sei. Aqui faço amor, dou carinho, prostituo-me e não me pergunto, pois não careço respostas e motivos. Você pode me ver por dentro e escrever é um prazer quase sexual.

* * *

Força... Comecei a preparar isto. Uma dose aqui, outra ali, enfim misturei necessidades e surgiram os primeiros brotos do subconsciente, este ser incógnito.

Era preciso fazer algo. Pensei: A saudade de você, e quis amar.

Tento sempre escrever, só assim expresso sentimentos e imagino você a me escutar. Muitas vezes choro e procuro solucionar minha afetividade. Sei rir, chorar e brincar...

É como uma semente perspectiva. Não importa como! Tudo se torna uma sucessão de ideias e princípios. Não há medo. E tudo nasce do desprendimento de si mesma.

Não existe um único motivo, mas múltiplos universos de motivos. A semente é um desses representa a vida que vai gerar vidas, que irão voltar a condição de sementes, e novamente florir.

E dentro da felicidade o como, o por que e o quando é feito as coisas, têm conotação especial.

Mas não se esqueça de preparar a terra, de oferecer água e raios de sol para que possamos nos desenvolver.

***

Nasci de uma pequena semente, que carregada pelo vento, precipitou-se em terra íngreme. Foi duro desabrochar em ramo verde, em meio a pedras e poeira.

A beira do caminho muitas vezes fui pisada, voltando a condição de semente. Vivi para a vida. Meu tronco desenvolve-se, minhas raízes aprofundaram-se e meus galhos ofereceram sombra. Mesmo assim era difícil me alimentar desta condição. E a morte é o único caminho certo para o fim de qualquer vida, que em um último recurso muda a perspectiva.

Meio perdida, isolada sem sentir o leve gosto da realização. E a rotina é meio triste, nada vai mudar, e acordo sem haver desenvolvido. Tudo representa anos de luta. E em meu viver existe amor.

Mesmo sem crer, persisto. E tento novamente começar...

* * *

A cada movimento do ponteiro do relógio nasce e morre vidas.

Estou cansada... Gritos e correrias nos quintais da infância, de galgar os degraus da idade, do poder, do prazer. Batalhar corpo a corpo, o cotidiano de uma casa.

Amadurece, encolhe-se, resseca-se e morre e algo começa a acontecer, mas alguns amontoados de outras corridas.

Envelhecendo-se, contorcendo-se e pronto. Durante cada minuto de tempo que caminha para a morte, nasce tanta cousa: sonhos, planos e afirmações.

Algo de vazio comprime as paredes, deste músculo idiota, que marca o valor da minha vida.

Algo comprime as paredes de concreto que me amparam.

Depois tudo recomeça com o dia e algo explode em um grito.

Inspiro e Expiro. E chego a sentir a vida e o extermínio de confusas soluções. Eu sou o eco de mim mesma.

* * *

Começou a clarear e um ligeiro raio de calor úmido entrava pelas frestas das janelas.

Tentei mexer-me na cama, meu corpo não obedecia. Meu pensamento não comandava, parecia demente.

Dentro de algumas horas a rotina teria início. Tentei levantar-me, o corpo caiu pesado, arrastei a cabeça para o lado e chamei! Está na hora.

Tomei coragem fiz impulso e levantei o corpo da cama, liguei o rádio. Coloquei água no fogo.

Estranhei... Onde estava a minha disposição? Passei a noite acordada, ouvindo os sinos da Igreja que badalavam.

Era a ventania forte da madrugada, talvez acariciando, talvez batendo secamente no sino da Igreja.

Talvez o vento quisesse fazer amor... ou estivesse louco de saudade.

* * *

Ordenava o ambiente. Lembrei-me da última conversa com papai: “Cheguei a uma idade que não esperava mais nada da vida”. Antes eu tinha medo da morrer, agora estou dando risada da própria morte e achando engraçado ser suficientemente covarde para atentar contra a vida.

Fiquei pensando e continuei a escutar a sua voz. A que conclusão sobre a vida, seus fatos e suas consequências. E como não me deprimir e nem angustiar. Tive medo desta ideia.

Pensei na cama, nos sacrifícios, quis parar o monologo. Mas meu pensamento continuava.

Ouvi o seu acesso de tosse, os seus olhos virados para o futuro e sua mão apertando a minha antes da morte.

Tenha coragem papai, estamos todos aqui, você vai superar esta fase, vai se livrar dos sofrimentos. Nós o amamos e a mamãe está rezando.

Tirei suas mãos da minha com muita dificuldade, nesta hora ele já havia morrido.

Mas também lembro-me, que você sentia saudades.

* * *

Coloquei o pé fora de casa, mas o que posso fazer? Assim continuei a pensar! E na areia escrevi. “Sou consciente, sou carente preciso de ajuda, também posso ajudar”.

Não é tão difícil, admitir uma fraqueza. É questão de evolução. Serei eu mais uma desajustada? Ninguém me respondeu! A mente silenciou... Talvez possua um caráter neurótico. Que tipo de ser humano eu, sou? É difícil definir o fino fio que divide duas opiniões entre o ter e o não ter, entre o ser e o não ser, entre o ver e o não ver.

Tentei rimar:

É melhor ter

E o melhor é não ter

Do que ter e não ter

O difícil fato causa insônia. Qual o final? Qual o caminho? E até onde nos leva cada caminho. Como mudar uma árvore de raízes profundas sem matar, sem morrer.

* * *

Você é o que se espera? Conseguiu amar? Sempre distante!

Senti o olhar frio da estatua e conjuguei do jeito que sonhei.

Hoje é domingo. Sentarei nesta praça até o cansaço chegar. Estacionei alguns sentimentos. Pensei tanto que achei estar complicando a capacidade de governar a minha própria vida. Confusa quanto ao futuro. Que prevaleça o maleável acerto com a vida e a aprendizagem do real e aceitável.

Em outra situação o realismo e o naturalismo da pessoa faz a vida valer.

Às vezes sinto-me só, mas havia harmonia das ideias e a tua saudade se podia apalpar, submetia e me ajustava.

Sentia anseios de procurar sobreviver. O tempo se encarregará do resto e de mim mesma. Mas quem sou eu?

* * *

É oportuno passar nas ruas e ver gente como nós, feitos da mesma matéria. São as oportunidades que escorregam por entre os dedos chegando a ínfimas condições.

Não existe lugar para fugir ou esquecer, a não ser no mundo da loucura.

É preciso saber lutar e aprender a ensinar a luta.

Devo agradecer a Deus por que existo, amo e quando acaba, amo novamente, e posso sentir saudade de um amor que não tive, não sei e não conheço.

Atônita pela inexplicável consciência do eu. Como a labareda alimentada de lenha.

Mas perceber que algumas coisas acabam para que outras possam florescer.

Como se modifica um sistema que se faz parte dele? É neste momento que o adormecido acorda. É uma fundamentação de vida, talvez de discernir.

Onde quero chegar, os problemas são pedaços que não se amputam, nascem e morrem com a gente. São mentalidades frustradas, histéricas e de falsa moralidade. Moldaremos ou divergiremos a outros sentidos.

Enquanto dure o valor do amor, estamos melhor separados. Respeito, e não manterei uma situação falsa com a vida, que sente com o coração.

* * *

Você descobrirá as coisas que vêm com o tempo e a idade.

O vento dispõe de nós. E ou gosta-se da vida ou aprende-se a dissimular melhor.

Magoada mas viva, sem precisar me esconder atrás de muitas palavras. Há valores..., se não conversarmos claramente, se não concordamos..., é porque você se encalacrou nas conchas, e está escondido, no apego as coisas. É algo espiritual que não posso medir esta sede de você, que está sempre na minha saudade. E o entendimento espiritual dá prazer e não é só aquilo que faz tremer nossas carnes; mas que aguça nossos desejos e inebria nossas mentes. Preciso da essência do que busco e eu quero você. O que adiantaria para nós dois se na cadeia de nascimentos, estamos sempre separados, são séculos de sofrimento.

É como um pântano estagnado e profundo, sufocando com vapores e areia.

Deixo aos gladiadores o espetáculo da vida. Estamos na idade de usar a razão.

Tempo de chuva e ventania.

Volto para casa, janto, deito. Sentia-me estranha a um canto da cama. Acordei pela madrugada.

Sentia falta de ar, o calor sufocava e algo carente como uma fera rugia. O sono não vinha...

Vieram relâmpagos, trovões, ventania e finalmente a chuva, cheia de vozes e a intranquilidade pairava no ar.

O dia raiava com ele a calma do tempo, e o sono chegou, pouco depois.

* * *

O que não se consegue conquistar. Nas pedras que piso, cavo alguns abismos. Descubro que tudo o que fizemos não é o suficiente, e o meu peito se comprime e vêm os impulsos de quem quer chorar. Olho ao redor e sinto o bom e positivo. Em meu pensar consinto teorias e esbarro no desencantamento do destino.

Vivo porque respiro, algo confuso, no fino fio do ser.

* * *

A notícia de que você estava doente pai me pegou de surpresa e viajei de volta. Espero que estejas bem! Acompanhei a hospitalização. Eu tinha receio desta viagem, mas Deus foi bom, para nós, dois. Não o deixei só enquanto pude. E nesses dezoito dias tudo se concluiu.

Chegou um momento que pedi a tua morte. Quando entrásseis na Unidade de Terapia Intensiva foi o auge do sofrimento e dentro de mim não via retorno.

Seria esta uma viagem sem volta!

E o coração ansiava como surpreendente tropel de animais em alvoroço.

Ainda pude me perguntar: Vou? Fico?

Estava dividida! Cheia de dúvidas, imersa em problemas a solucionar, apática, não diferenciava a noite do dia.

Dormia o sono dos incompreendidos, envolto em desesperanças.

Enfim o meu sol mesclado de chuvisco, começa a alvorecer e a fumaça da manhã desaparecia voltando para o céu.

É tão cruel e insípido... A morte é um espaço aberto para a imaginação. É um mergulho no nada e na escuridão.

Fui visitá-lo e senti vontade de conversar com você, de gritar, mas contentei-me em passar a mão pelo túmulo e chorar.

As lágrimas caiam e a garganta pesava e apertava. Era uma dor, vinda do fundo do coração. Fiquei a imaginar a sua decomposição. Rezei..., um Pai Nosso e saí, mas sentia vontade de ficar.

* * *

Passou alguns dias e penso nas nossas conversas, risadas e suas piadas...

Olho a sala e me lembro, do caixão e das flores brancas. Pai nós fomos fortes e agora você está morto.

Morrerei um dia, mas acho tudo sem muito gosto.

Pensei que não fosse aceitar a sua morte, mas apenas não acredito.

E foram quatro as vezes que vi você se mexer no caixão.

Estava, morto, as paradas cardíacas e as respiratórias...

Fico abismada, pois o corpo não tem valor do que se pesa neste momento.

* * *

Quantas e tantas vezes entre uma risada convidou-me para “mentir”; Era a formalização para uma conversa. Quase um grito de solidão, onde sairia de tudo: Conselhos, piadas, sentimentalismos, saudades, caprichos, troca de ideias, passagem de informações, paisagismo e até brigas. Era um mundo de histórias e estórias.

Dava para fazer refeições, havia fumaça dos seus cigarros, os copos d’água e os acesos de tosse que frequentemente sucediam ou antecediam algumas frases.

Com a proposta de mentir, você intencionava aguçar o meu espírito critico e fomentava uma conversa viva e de início conflituosa devido ao tipo de proposta. Você sabia que eu ateava a bandeira ante mentiras.

* * *

O que seriamos sem um corpo, e com um corpo enfraquecido pelo tempo, dos ânimos e dos quilos.

Todo mundo tem suas insanidades, e penso melhor quando caminho e fico tranquila quando tiro os sapatos e piso no chão.

Você gostava de fumar, um cigarro atrás do outro, ás vezes dois ao mesmo tempo. E ficava irritado se tornando um desconhecido quando o cigarro lhe faltava.

Aqui não vou registrar a cronologia do tempo, mas os fragmentos que marcaram nossa convivência.

Talvez sejam apenas retalhos de uma vida.

Mas você era um sonhador que sentia saudades, que gostava de tocar violino e amava escrever.

Quantas vezes ficava olhando a rua, esperando. Esperava a todos. E só dormia quando chegávamos.

E sozinho na varanda ou nas janelas do quarto, fitava o infinito e via a noite passar.

Mas quando o último da lista chegava então você dormia. Noite após noite. O que pensava? E o que arquitetava, sabe Deus!

Às vezes tinha algo para dizer, uma critica.

Mas o tempo foi passando e houve momentos que você não soube se era noite ou dia.

Houve Noites que você rogava pelo nascer do sol, pois a idade veio trazer a intranquilidade e o medo da noite.

Talvez a proximidade da morte ou o macabro do escuro.

Talvez o próprio incerto da vida, e a falta de confiar no amanhã.

Talvez um talvez apenas ou simplesmente a instalação da doença.

* * *

As ideias e pensamentos vem surgindo e sempre misturo presente e passado, pessoas e pessoas, conhecidos e desconhecidos, fatos corriqueiros e esporádicos. Pulo de um fato para outro e descrevo coisas misturadas.

Não é bom, tudo o que não se pode ver e nem sentir.

A vida parece um mercado, oferecendo-se, perdendo-se e adquirindo problemas. Criando e consumindo pensamentos. Afastando o conviver, a troca, o existir.

Continuo as divagações. Nada impede o melhor, e de se ter uma solução. Se não confia... Não ama. Estamos no pasto e não se entende o próprio semelhante. Faça qualquer cousa, decida.

Pensei: Este meu cérebro! é como se se materializasse e virasse gente. Dei a você o que tinha, não despeje frustrações, pois ainda não estou vazia.

Modificamos um relacionamento. Enlouquecido... Inoportuno. Entre o sano e insano, irrefletida numa confusão de sentimentos.

Algo inspira desinteresse e falta de amor. Mas a conversa ainda nos sustenta.

Ficamos na praia, emocionados e falando intimidades, havia água em nossos olhos.

É cruel a fragmentação e jogas pelos ares os pedaços que se debatem nos caminhos de lama. Mesmo evoluindo, confundo a massa obscura que povoa as ruas. Tortuosa de gente sem trilha, desgarrado de contexto e família.

Bandos solitários, indiferentes com sua própria vida. Paciência existe um momento para tudo...

* * *

O sentido de viver começa a mudar. Há uma luta que se estende desde o começo da existência. E algo mais, em nossas cabeças, repercute como o som de acordes, de vida. Não deixe que os homens se matem ou se entreguem a pesadelos ou farsas.

Não sei o que sou apenas preocupada com o rumo da vida. E ser fiel é uma questão de pensamento. Você papel que pode me amar pelo carinho que a tinta de minha caneta lhe dedica. Você é real. Como não deixar que penetre! Algo entrou em meu caminho e aconteceu de ser profundo. Por que não ser vulnerável?

Há um tempo para tudo, e o nosso está acontecendo. Lembro que não quero perder, e estou só na particularidade da franqueza do que penso.

Posso esquecer, mas não quero, posso passar e não olhar para trás. A liberdade é responsável e fico a imaginar o brilho da espiritualidade permanente.

Este filho que concebo, vai ser um lutador, vai cerrar a mão e abrir caminho.

* * *

Continuo a busca. Surpreende-nos esta tal rotina. Porque a luta é uma emoção quase palpável, um estado de pensamento, das abstrações surge a realidade. É preciso ser vivida.

A vida se impõe e busco um meio de chegar a superfície, verdadeira dilatação de pulmões. Só me descubro, cumprindo o que me compõe. Sentindo-me no que faço. A respiração lenta, a cabeça explode com ideias.

Quero gritar, dói-me a consciência, e jogo o meu corpo de encontro a paredes.

As lagrimas caem e esbarro no vazio do desencontro. E a procura continua...

* * *

Queria de uma forma diferente, expressar nossa amizade e carinho, mas qual maneira! Soube orientar meus pensamentos. Estimular os meus desejos. Ensinou-me a ter uma religião, organizou ideias, opinou sobre problemas. Acreditou em mim. Fez nascer a força, adormecida, como forma de resolver a busca e lançou opções para a travessia.

Faz faltas, as tardes que podia ouvi-lo ou as manhãs que podia vê-lo.

Aqui quero sua presença e a certeza que tens tempo e podes me escutar.

Lembra-me dos meus suicídios gástricos, nos quais comia quilômetros de alimentos que não me saciavam. Então a tua conversa saciava a minha ansiedade.

* * *

Gostávamos de passear, como nos tempos de adolescência. Embora já tivesse algumas angustias.

Conseguia andar de mãos dadas, comer pipocas, tomar sorvetes.

Tudo era bom! As árvores, o verde, a água.

E agora usamos uma capa chamada adulto.

Fica tão difícil fazer coisas simples.

Sempre dentro do escritório, do consultório, do carro, da casa. Dentro de um terno qualquer com cara séria.

Mas éramos muito mais sérios quando usávamos sandálias, uma calça desbotada e andávamos de bicicleta.

Sabia andar sem medo, embora tímida era uma eterna apaixonada pelo sabor da vida.

Aprendia o sim e o não, sem meias palavras.

E não me envergonhava de dar e tomar sentimentos.

Hoje usa-se adornos que caracterizam o “eu”, cobre-se o sol com peneiras, e olha-se obliquamente.

Agora pego o telefone e não tenho coragem de ligar e simplesmente dizer que te quero ver, ouvi, conversar.

* * *

Um abacateiro que dá laranjas, uma laranjeira que dá abacaxi. Frutas raras no faz de conta. Tende refletir a imagem no espelho. Faz de conta que eu fiz uma boa história para você. A árvore é oca, a casca é adorno!

Antigamente, escutava estórias de contos de fadas, contarei para meus filhos contos de bruxas? Porque sepultam os valores morais em alcovas vazias?

Onde está o eu que procuro e o porquê de escolhas irracionais?

É incorrigivelmente difícil saber qual é o fim da trilha que se segue, embora o caminho se torne mais estreito, o horizonte continua a existir e enfocar um novo início a percorrer. E as perspectivas? E o futuro como será?

Assim está o mundo:Vivemos um presente sem controle, um passado sem dignidade, e um futuro sem previsão: Hoje a cousa descamba para a farsa.

Mas, e a quimera!

O céu não é o limite! Apenas guardaram a boa vontade, cruzaram os braços, tamparam ouvidos, vendaram os olhos e as bocas emudeceram. Quis andar e caí. É um jogo sem regras, onde o verão perde o significado com uma só andorinha. Então é mais fácil tomar do que proporcionar, sendo as regras do jogo ditadas por quem banca, e a aposta não tem limite. É o fim da fé popular.

Pois era retinente, massacrante. Os partidos diluem-se, as tendências perduram-se. É a mesma cantiga do grilo. O mesmo som que emite a cuíca. O mesmo tom e a gota de água que transborda. A cor do casaco, não muda o canto.

***

Queria vê-lo, sentir e tocar o teu corpo e as ideias. Ainda me consolo em pensar, pois é uma maneira de começar a descobrir o outro. É um gostar que pede espaço, que deseja se saciar, primeiro pela mente. E projetamos uma medida que alcança a nossa imaginação. E depende de uma palavra em omissão. Conte comigo, pois este desejo de doação se multiplicará para que possamos dividi-lo.

Entre tatear as formas, admirar o conteúdo, algumas interrogações, o leve sal da discórdia, que não reprova e nem abandona.

Espere que me encontre aqui.

* * *

Hoje é mais um dia, por instantes vejo poeira nas vidraças. Levantei para olhar a rua, numa manhã de sombras, onde a chuva faz-se vizinha, tudo paira no ar. Sentia o cheiro da terra e o sabor do mar. O vento furava a vidraça.

Espera, preciso saber do amor, inspirar o pensamento e encontrar em teus sonhos a ânsia da liberdade. E no carinho empregar a força numa procura sem brutalidade.

Trocamos-nos e nos obrigamos com a vida. Quantas vezes só materializava e o chamava para mim. Andei por terras de conquistas e fracassos. Eternizamos as noites e as buscas. Em qualquer lugar o sol declinava e a ventania envolvia o espírito. Assim o vi em cada momento. Fazias parte do meu acordar e tua imagem invadia-me o espírito. Teu cheiro entranhava-se em minhas narinas.

Caminhamos de mãos dadas por veredas, por estradas. O teu sentir passou a meu sentido e penetrou na minha paz. Então a cor do campo coloriu os meus sentimentos.

* * *

Sempre voltamos aos tempos de criança. E ressurgimos nas angustias dos adultos. Tudo tem finalidades e consequências. Por que existo? Por que amo? Por que odeio? Por que desejo? Por que persisto? Por que... O medo de desvendar segredos, traumas e desejos. Mas o fato existe. Não tenciono esquecer nossa vida que é inteira e repleta de retalhos de conquistas. E pergunto pela resposta que se tornou uma barreira. Acredite no pensar e depois decida. Você tem medo de descobrir, de ficar nu, transparente e da angustia de não procurar se realizar. Você não sabe dar e, portanto, aprendeu só a receber. O que pensa em justificar! Explique o silêncio, a paciência, o abandono, a necessidade da convivência humana, da defesa e a agressão.

Não se semeia a brisa, por que ela apenas quer passar, mas se conseguir, vai colher tempestade.

Analise fatos vividos, sem se prender a passados. O passado foi feito para as lembranças, para a história.

Não tente criar canais que o desvirtue da realidade.

Como se pode colher e não ver? E as gotas de água vão se juntando e enchendo um copo... O tempo engatinha e se descuida do sim e do não, se agita e se envolve, desfalece e torna. Entenda os símbolos. Grito e exaspero-me nesta busca da consciência.

Há conflito, o que significa é o encontro do eu, ao encontro de um plano que satisfaça. Não tabule o certo e o errado, pois o amor são dois extremos interligados que se perdem dentro de si mesmo.

* * *

Fechei os olhos e te vi numa estrada sem asfalto, mas todo o movimento é uma força e o cérebro faz emergir a tua imagem. Acompanhei-o neste passeio e ao teu lado misturamos a luz do sol e os reflexos nas folhagens que beiravam o caminho. Misturamos nossos sentidos, os pensamentos e ocupamos o mesmo espaço. Vivemos um só corpo e integramos dois espíritos. Desvendamos-nos. Tua mão procurou a minha e voltamos a caminhar. A espera dignifica a paciência. O amor liberta, mas responsabiliza-se.

Enfrentamos a carne para chegar ao espírito, e conseguimos o prazer sem medo, de estar juntos e poder discutir os assuntos diversos do mundo.

Eu o procurei em minha mente todos estes dia, e você era fugaz.

Tudo é um estado de espírito e reflexões.

* * *

Sabe quando fluo de uma história a outra. Quando estou jovem ou velha, quando solteira ou casada.O pensar é transmudável como a luz.

A tua mão procura a minha intimidade. E o meu corpo estremece de prazer.

Neste momento não imagino a dor cravada em minha alma.

Tenho consciência do direito a liberdade sem perder a lógica. E a razão é uma fração de palavras.

O trabalho, quando cria conflitos e desânimos é melhor analisá-lo.

O impaciente abre um vazio, é a angústia presente. E o coração se comprime diante de tantas impossibilidades, então minha mente se agita. Quero carregar em mim a vida e não apenas paredes vazias e ângulos dispersos. Precisamos nos dar em paz e sem ambiguidade.

Sentindo os movimentos, o calor, o abraço e o olhar que consegue encontrar a alma.

Queria o peso do teu corpo no meu e depois o calor dos teus beijos e o carinho da quietude de um corpo ao lado de outro.

Nestes momentos sei que sou mais que eu mesma, pois sou parte da tua parte. E depois até as nossas forças não podem mais, mas estou sozinha.

* * *

Vou começar novamente do colorido das coisas, da cor verde das plantas às rosas vermelhas, do céu azul, do mar violento e do horizonte avermelhado e dos altos montes que circundam minha terra.

Havia o clube insignificante, o badalar do sino da igreja, o bar com sua música estridente, uma estrada ao longe de algumas granjas, um povoado, gente, carros, vi o enorme coqueiro que havia sido plantado por papai e a ausência de alguma coisa dentro de mim falava.

Ainda passou em meu pensamento as músicas de Bethoven e a paixão pela Grécia distante.

Meu pensamento vagava. Fiz uma corrida, os pés molhados da água da represa, os olhos opacos e os lábios secos.

E em um dia calmo, nos tempos de criança, naquele eterno acordar e adormecer sonhei...

Sonhei ser antiga como os móveis da casa de minha avó, muito mais que o sobrado onde moro.

E continuei a olhar pela janela e a sonhar acordada.

A minha mãe chamava dentro de um castelo em meio a arvore e gelo.

Acordei assustada e senti um pouco de medo.

Em um canto sentia uma fria lembrança de um sonho que pode matar.

Percebi uma luta por uma liberdade. Uma alma surgia acorrentada ao passado. E em um lugar não sei onde, alguém geme de dor.

Um sonho na solidão povoada de uma visão.

Vi o semblante pálido me puxar ao desconhecido, e o som me vêm aos ouvidos.

Sonhar passou a ser um pesadelo. O medo, a tortura do desconhecido. A solidão a consumir. Olhava a janela solitária e longínqua, perturbando a paz. Quase trêmula encolhia-me ao quarto. Mas o caminho da incerteza continuava.

* * *

Calculei que fosse passageiro, mas tomava o meu tempo e meus afazeres. O meu quarto era uma teia de aranha. Tive impulsos, mas se foram como é próprio desta palavra e a voz ecoava a chamar...

Chorei junto ao travesseiro, no inconsciente algo me prendia. Algumas vezes pensei em morrer. Assim veio a insônia, a fadiga e irreflexões. E como em um delírio sem nexo e desordenado eu andava sem compreender, infiltrando-me em um estado de insegurança.

Foi-se uma alma...

Angustiada? Os olhos transpassaram os muros e estremeceram da falta de um nome, perdi os pontos de vista. Perdi a mim própria e foi-se comigo para sempre daquela perseguição.

Perdi a paz. Grito e arrasto-me entre os espaços do meu quarto, a figura do meu cérebro a me chamar. Queria mudar este capítulo, como se vira a folha de um livro, mas não consigo trocar esta voz por uma canção.

* * *

Não sei quase nada. O espírito fervilhava ideias, alguma química inebriava e surgiam esboços de um “eu” e acessos de loucura. E foi o único vencedor desta figura perseguidora de mim, chamava-se pensamento. É importante não o que se faz, mas como se faz e chegaremos ao fim deste principio modificador. Para que mais, se o que disse saciou, e se não saciar darei mais.

Desconheço as nuvens e o azul profundo, mas meditarei esta estrema grandeza onde se figura a mente humana. O sentir só depois do acontecer é mais real. Os diálogos mostravam o cego eu de uma criação. Pude ver o peixe fisgado, a árvore florindo... E quando você parar deixe o pensamento prosseguir, pois pensar é ter antes de possuir.

Eu escutei o vento soprar. Aquela voz que te chama, é a si mesma que ela procura. Talvez fizesse parte de mim e que a fé nos abençoe.

Ao acordar lavei o meu eu: Pensei na linguagem figurativa. A arte é o que se cria, mas muito mais o que se sente. E nada é suficiente para aquele que necessita sempre mais. E no inconsciente sempre haverá a penumbra. Então vi que o amanhã será sempre futuro, mas o presente será passado.

* * *

Ficava agitada nos dias que sentia angustia e não esquecerei o quanto significou algumas lágrimas e o valor do ser humano nos caminhos do desengano. Mas quanto muito se sabe e quanto pouco se conhece?

E calada lucro todo o universo! Embora não saiba bem, o que se deveria saber.

Dividia-me a compreender a vida, mas o profundo olhar no reflexo de um espelho voltava para onde veio. Então se iniciava a meditação e surgia todo um mundo de ideias e as espécies com vulgar valor positivo e negativo, mas nem tudo é aceitavelmente compreensível. O viver é antes de tudo uma transformação que se estende até a linha imaginária do próximo. Em um horizonte de trocas e conexões.

No reassumir da vida e contando os passos aprendo o que é solidão. Mas lembro de que, quando mal acompanhada, se está mais que só: está perdida.

O pensamento e as recordações do ciclo da existência sobrevivem e se eternizam em momentos.

Venha a ser uma chave de uma porta que se abre espontânea e livre e nem a morte apagará a chama do meu pensar.

* * *

O que seria dos meus olhos se não existisse os teus. A finalidade é crer em um algo concreto.

O ser tem vários caminhos, moldes e sintomas. É preciso antes de tudo ser alguém e não se indispor com a vida, antepondo-se a ordem em que se encontra para servir a um determinado propósito.

O sono areja e refresca a mente, e o sonho mistura do real e imaginário que se antecipa ou sucede a alguns fatos.

Janela aberta à luz do universo, passa-me a tua sapiência e declina sobre o meu corpo a tua paz, pois o vazio no meu peito é apenas a procura, então me conceda o amor ou o conforto essencial para um momento de sorriso, no abrigo dos teus braços.

E agora tudo tende a estar no seu lugar e o espírito descansa.

* * *

Nas impressões, a casa era apenas o concreto em minha vida...

Sentia todas as manhas o sol filtrado pela vidraça que me convidava a natureza, sentia a realidade confusa da vida monótona, via a angustia se apossar dos que me cercavam.

A chuva que caia de madrugada me causava saudades e as tardes sombrias, fazia-me pensar que morria alguém.

As vezes queria acreditar que existia algo além das fronteiras.

Todos são pontos diferentes.

As pessoas têm um cheiro diferente.

Escutei... papai tossia no quarto vizinho e eu tentava imaginá-lo, pensando, a luz apagada e a fumaça do cigarro a criar figuras diáfanas.

Na sala minha mãe lia um livro de páginas alvíssimas.

No portão minhas irmãs com ideias irreais e cômicas sobre a vida. Pensam...

Quando um vento frio cobria o rosto, eu criava um mundo de pensamentos confusos.

***

No dia a dia senão a falta do que fazer tudo mais se confunde. Todos são alguma cousa e eu o que sou?

O suor escorria-me pelo corpo e quando a luta do dia termina fora, recomeça dentro de mim.

Entro e entrego-me ao chuveiro.

A noite revolvo-me na cama e jogo longe travesseiro, arrancando na agonia de um sono um amanhecer nua. Como a madrugada é fria! A vidraça está úmida e a roseira orvalhada. Esta noite não chega ao fim, espero o amanhecer, os primeiros raios de sol.

Andando pelas ruas vi corpos que exalavam o azedo cheiro do desânimo e estavam pegajosos. As ruas ensolaradas de um sol sem brilho; este calor, os vultos apressados, incompletos, apertados.Tudo estava abafado.

Depois sua imagem foi se aproximando e eu o absorvia. Por momentos pensei que falava sozinha.

Cheguei a perceber raios que traspassavam as copas das árvores, indo fazer bolinhas coloridas no chão, e alguém lia um jornal...

Assim atravessei a praça... e junto ao tanque patos e cisnes se banhavam.

Mas a noite o ruído da rua, a insônia.

* * *

Duas lágrimas deixaram uma letra ilegível. Sorriu um riso incompreensível. Recuperei a marca daquele momento triste e abandonei a caneta. Corri até a porta, com euforia recebi o papel das mãos do carteiro. Havia uma história pessoal. A vontade de escrever cada vez mais se desenvolvia. Deixe-me livre para entrar e sair quando sentir vontade. Eu disse para mim: Abre os braços, mas não me aperte.

Você parou e lutou, queria viver e foi morrendo, todo dia eu nascia e toda noite eu morria, a sua vida não passava de um sopro. Agarrou-se e hoje respira.

Sonha alto a realidade, sem faltar essência a sua estrutura. Cercado de ideias evoluídas. Envolve-se e confunde-se com vivências humanas. Transportando toneladas ganhando patacas!

Ah! Prefiro ir à praça, tomar sorvete... E deixar os problemas!

* * *

Mas algo pesa, as palavras saem defeituosas. Falta a decisão... sentir o útil, apalpar o real. Assim senti o teu olhar, o sorriso e o encanto. Estava a esperar.

* * *

Quanto ao vazio de cada rosto e no abraço desfeito, mas trazia em cada olhar um sinal de adeus. Em cada adeus um jamais voltar. Passar sem vínculos, sem querer ficar.

A mulher é o princípio ativo de toda uma propagação da existência. É o conceito mais profundo e a maior expressão de amor. Trabalho laborioso de conquista de espaço. Criando, orientando e esclarecendo olhando as duas faces da moeda.

* * *

Procuro o caminho, pelo qual terei que andar, poderei levar ideias que jamais se apagarão.

As lembranças estarão comigo. Trarei um pouco de vocês. O difícil é a falta da sua presença. Poderei colher em um sorriso de criança, na palavra de carinho, na mão que segura, no abraço de conforto, no rosto silencioso que cumprimenta.

Nos teus passos ensinaste o amor.

A tentativa de ser simples de coração.

Comecei a ver! E fiz amor. Amor com você, conseguia fazer amor com meu cérebro, com meu pensamento, a sensação de se doar.

Pura razão distorcida da verdade. Então não sei como sentir e nem como falar! Um talvez define a luz do teu olhar Entender o viver e acompanhar todo o acordar.

Revela a luz da verdade para quem não pode ver. Mostra o caminho para quem não sabe retornar. Fala as tuas verdades para quem vive em mentiras. Dá a tua compreensão para quem só quer intrigas. Oferece teu amor para quem não sabe amar. Ajuda Senhor Deus ao necessitado, inconformado e ao derrotado. Faz encontrar os que procuram, mesmo que a névoa dos olhos não vejam.

O amor não tem mistério e preciso entender a mão. O mistério está nas pessoas, pois não sabem amar. Todo dia o sol nasce, evolui e se põe. A criação da natureza é perfeita em seu amor e o artista de profundo sentimento.

* * *

Pensei que pudesse brincar e sonhei ainda ser criança, mas não tenho idade. O conteúdo, a harmonia, a perspectiva são formas de sonhar

melhor. Posso imaginar que dentro de algumas variáveis o que pensa o homem.

Jogamos com as palavras, aos sentimentos aprimoramos, aos contatos ajustamos, a falta a carência...

* * *

Existe a forma direta de falar e o simbolismo da linguagem poética e da forma de relatar uma fantasia, a junção de objetos e elementos que se somam.

Assim, suprir o meu pensamento com voos altos e rasantes.

Criar, mover, absorver o pensamento, as ideias.E uma data qualquer em um calendário à toa.

A razão da vida é que a essência é conhecê-la com todo o amor que se possa fazer.

O que importa é a coragem, a simplicidade, a espontaneidade das atitudes.

Mas a posição das pessoas torna pesado o ato da sinceridade. Quem sabe se em outra sintonia a amplitude é melhor e manteremos o amor. O que pratiquei e o que deixei de fazer! Com o coração limpo.

Comecei a entrar em processo de parto.

Foi assim que escolhi você. Era este o título que precisava. É o sentido que veio a complementar a ideia. Toda vez termino relegando e nunca concluo você. É um processo difícil a concepção, é um verdadeiro acontecer de ideias, informações, desejos harmônicos e mística de argumentos e saudades. Enfim concebo as junções das tuas ideias e delimitações dos teus espaços.

A gestação é prolongada e muitas transformações serão processadas. O importante é que deve ser carinhosa e afetiva no seu desenvolvimento.

Quando chegar a hora de parir não sei como será. Não sei a força desse filho. Não sei sequer a minha capacidade de parir você.

Só quando passar, talvez no puerpério, tenha a consciência deste ato. E saberei como você aconteceu em mim.

* * *

Era sempre aquela agonia, o mal estar geral, a dispneia. Tudo era um sonho neblinado, fragmentado. O que quer? O que fazer? De onde partir? Tantas e quantas são as perguntas. As quais muitas não tem respostas.

Como abrir a própria vida e correr de encontro a sua própria essência, peito aberto, alma lavada, compreensão de mãe.

As vezes me faço perguntas! Ai surge relâmpagos de ideias, de ideias de átomos e algumas ligações moleculares.

Comecei a entrar em ideias desativadas e dispersas.

Trago tudo de volta ao núcleo e lembro: Comecei a amar você.

* * *

Amar não tem começo e nem sempre tem um fim, dura enquanto existe clima. É eterno.

Suge explicações nem sempre lógicas e teorias nem sempre racionais.

Somos perecíveis, mórbidos, incoerentes e as vezes pouco sugestivos.

Enfim existe a sujeição, a qualidade, o sofrimento, o contentamento, a felicidade, a tristeza.

Retornei aos meus devaneios. O teu amor dizia: Fique assim e não acabe nunca. O instinto estava aguçado. Sentia algumas virtudes, a paz, e o pensamento distante, os olhos perdidos no horizonte. Havia transfigurações e uma saudade mascarada.

* * *

Um leve gosto de quem mascou fumo. Um pensamento sobre a miséria humana, a escassez na terra fértil. A morte em vidas que se iniciam. Indistinta fome.

O céu turvo de um amanhecer incerto. Um padecer de fome, de educação, de saúde, o despreparo de um povo.

O tempo lembra que tudo há de passar.

Há muito doze badaladas e meia no relógio da igreja. Os cães latem na rua, talvez muitos durmam, alguns fazem amor, outros gemem a dor de sua sorte.

Resolvi dormir, acabar o falso moralismo e desprover-me de tudo, e como fazer o processo torpe que nos governa?

Ao acordar, sabia que algo mudara em mim .Um começo iria se apresentar.

Arrumei a bagagem, uma rede nas costas, andei em busca de um caminho sem fim, sem sombras e reflexos, sem galhos e raízes. Andei neste rio, em cada porto...e comecei com estas palavras: ESCREVO por que AMO, ainda sei amar. Aprendi a sentir a natureza, escutar o seu coração, a compreender e a respeitar. Ao espírito depuro os reencontros. Descanso e faço a digestão destas palavras.

* * *

Lembrei que deveria reconhecer erros, talvez alguma falha na base. Como olhar e não ver. Vi gotas d’água se juntando a transbordar em um copo. Regarei a terra! Mas no passado distanciamos as sombras ao por do sol. E o sentir consumia cada momento.

Há um tempo para tudo, as mãos se encontram, os corpos se juntam, e as mentes se doam.

Nas teorias de atração de polos negativos e positivos, mas estranha-se em meus sentidos o teu cheiro, somos o antes e o depois, sem fantasias, despida de alegorias, buscando os sentimentos.

* * *

Estou confusa, perdida na noite. O sono não chega. Fui ao telefone um sem número de vezes queria ligar, e ouvir sua voz, mas com telefone na mão ou no ouvido, palavra perdida. Tinha medo. Medo de confessar minha solidão.

Deus, para que temos inteligência se não sabemos usá-la. Será apenas passar pela vida sem vivê-la.

Confesso a ti porque acredito na grandeza do teu amor, na tua força, na tua sinceridade, assim luto para defender o que acredito. Amo em cada momento e até mesmo quando discordo. Porque minha mente é livre e o meu corpo caminha para a liberdade, responsável e digna.

Desculpa os pensamentos que se desenrolam tumultuados como uma pedra que irá ser esculpida, mas que aos olhos do artista poderá

expressar várias formas. Não separei o contexto físico do espiritual. Por não entender um amor só físico, por não aceitar um amor só espiritual.

Jamais deixarei de querer, sentir e criar os momentos, é um prazer de expectativa.

É como parir. E na tua metade que se completa ao atingir 360° na esfera.

Entende as parábolas da vida. E todo um folclore em torno do teu nome.

Mas quando você estende sua mão não tenho medo ficar de nua de iniciar e concluir cousas, e por achar tudo próprio e comum esqueço de mim. Aí me descubro só. Cansada, mas não me faltam forças. Por que antes tudo era escuro e prognóstico sombrio.

Onde arrumei forças para combater tanta loucura! Estou semi-livre.

Dentro de mim sou alguém para o bastante de desejos cumpridos. Encontro o que preciso saber e onde posso estar.

Mas o desejo continua no teu nascimento, tua formação dentro de mim.

Excito-me com tua presença em meus sonhos e desejos. E você foi crescendo, completando-se e nasceu. Saiu de pulmões abertos, choro imediato , sem edema.

Foi um prazer sua conclusão, o que de melhor pude sentir. Algo preencheu um certo lugar vazio que existia em minha vida.

Criei coragem e assumi ser mãe. Sonhei..., aprendi a te amar. Tive dúvidas e medos. Mas você superou as minhas falhas e nasceu.

Existia o clima, e todo um envolvimento.

Seria ruim se não começasse a viver e se não me inteirasse ao meu amor.

Talvez extremo, talvez prostituído, por amar na crescente vontade do mais.

Havia corrido ao encontro da sua própria essência.

Fiz perguntas, e relâmpagos de ideias.

Trago ao núcleo os pensamentos e lembro que: já comecei amar você.

* * *

Não se evapore, compreenda o rumo do barco à correr na superfície da água.

Andando e procurando as atitudes dos homens. Vendo o potencial energético na esfera da vida. Conhecendo pelo coração, não há magias sem sentimento.

Pai, sinto saudades das cantigas antigas que vinha do violino, um sorriso nos lábios, os pés marcando compasso, seus olhos brilhavam. Você era amigo, era respeitoso e digno. Você me inspirava gostar de escrever.

Você estava vivo, presente, podíamos conversar e então eu mostraria o meu coração, a minha mente cansada e as lagrimas derramadas. Como o mar, o sol e o sal querendo acreditar e discutiríamos sobre o meu livro ``A semente que da saudade.``

* * *

Descobri quanto a mente pode criar. Sei que posso pensar e ordenar as ideias em uma folha em branco, e deitar a tinha da caneta criado mundos, formas e cores. Fazer uma árvore falar, uma mesa sair do lugar.

Podemos escrever, narrar, dissertar, discorrer sobre um mesmo tom com nuances diferentes. E ainda ser feliz, o belo ser mais belo.

Aprendi a criar, a viver, a ver.

Posso fazer de quatro parede um lar e de um enorme castelo, um casca de ovo.

E ver com exatidão o caminhar obscuro de um povo. A degeneração de uma estrutura.

Ainda tenho tempo de olhar as águas do rio a passar, os barcos a apontar, o cheiro do peixe.

Ando pelas ruas e vejo rostos, almas, lugares.

Descubro intenções e sentimentos.

É só olhar, é só sonhar, é só amar.

Posso amar ver ... e sentir... e sonhar...

E dentro do meu quarto descubro o outro lado do pensamento e posso raciocinar.

Abro a porta pela madrugada vejo estrelas cadentes, lua e constelações, vejo o sol nascer. Descubro eclipses e faço pedidos.

Não escolho a hora, para ter e sentir a vida.

Assim deixo acontecer.

* * *

Este escrito, produto de noites de insônia, carências e conflitos.

Nasceu como um filho, gerado em meu útero, alimentado do meu sangue. Fruto do meu carinho e amor.

Foram anos, até que enfim vingou e se desenvolveu. Esperei com paciência.

Enfim nasceu...

E agora no mundo de homens e ratos!

Traças e baratas!

Mas eu ainda temo pelo teu destino.

Escrever é a melhor formar de viver e reviver, de eternizar os momentos.

Encontro-me no que escrevo. E escrevo porque vivo.

Talvez, com símbolos e folclores, mas com muito sentimento. E vejo que o caminho é o único meio para se chegar a vida.

Fazendo o amor se tornar mais amor, tentando abrir o coração, fazendo a mente correr largas, pelos caminhos do pensamento livre.

Respirando e pisando com os pés firmes na terra, jogando sementes, colhendo ideias. Também sofrendo, porque sempre amando, sonhando e crendo como a saudades que surge e nos leva para longe e para perto.

Acreditando no homem.

Enfim, o que escrevo, vivencio, em uma ideia, em um detalhe, no sorriso, no abraço, na lagrima e na dor que machuca o peito. Assim fico colhendo os sentimentos e salpicando o papel com a tinta.

Teresa Cristina Monteiro
Enviado por Teresa Cristina Monteiro em 30/10/2015
Reeditado em 02/11/2015
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