O Pato

Lembro-me do pato que ganhei quando era muito criança. Era um pato branco e duas patas. Não lembro de quem ganhei. Sei apenas que sabia que eram meus. Que sabia que apareceram. Era tão criança que não me dava conta de como estavam lá. E na minha cabeça de criança esse pato tinha muita importância. A todos que chegavam eu falava que tinha um pato. Nos meus olhos ele era muito amigo, dócil e muitas vezes conversei com ele lá atrás do quintal de casa. Pensava eu que ele me compreendia e que era meu amigo. Eu chamava e ele vinha.

Uma certa vez, meus pais estavam recebendo amigos, havia alguma comemoração de adultos, todos conversavam sentados ao sofá, as mulheres estavam muito arrumadas eram Ná, Cecinha, Céu e Lenira dentre outras e havia um dos homens que estava de palito branco com um sapato social muito polido, que todos chamavam doutor Machado. Era uma tarde muito ensolarada. As janelas das duas salas de visitas estavam abertas para um jardim com muitas plantas e flores. Um sofá com um tecido vermelho com cortinas abertas que dividiam as duas salas, as pessoas consumiam tira gostos e bebidas.

A minha mãe não permitia que crianças participassem de festas de adultos. E quando eu me aproximei da sala para olhar as pessoas, o homem de palito levantou-se e me pegou nos braços e começou a brincar comigo e me levou diante de todos, com muita conversa animada, então eu falei para ele que tinha um pato. E ele me disse que eu fosse buscar o meu pato que ele queria conhecer. Eu disse que não podia, pois minha mãe não ia querer o pato na sala. Ele disse não se importe, pois lhe garanto que sua mãe nada vai fazer, traga-me o pato que iremos brincar com ele também. Fui buscar o pato e ao chegar no corredor perto da sala parei, imediatamente o homem se levantou pegou o pato e colocou no colo de uma das mulheres, que assustada passou o pato para o colo da outra e assim todo mundo foi passando o meu pato de colo em colo, o meu pai foi chegando e caiu na risada e com a algazarra da sala minha mãe saiu da biblioteca e ficou aterrorizada, me fuzilou com o olhar. E o homem disse: Rosicler soube que aqui tinha um pato e fui busca-lo para as meninas conhecerem. Minha mãe pegou o pato e me entregou. Eu olhei para todos e todas e suas roupas bonitas estavam meladas de lama. Lama das patas do pato. Mas estavam todos rindo, pareciam felizes. Eu levei o pato para o quintal e não lembro mais dele. Nunca mais o vi e nem o ouvi. Ele desapareceu.

Teresa Cristina Monteiro
Enviado por Teresa Cristina Monteiro em 02/11/2015
Reeditado em 03/11/2015
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