A Mulher Do Apelido Feio

Meu pai me contou que era um menino muito pobre e que logo cedo teve que trabalhar para poder ajudar o seu pai e a sua mãe que eram operários de uma fábrica de tecidos. Ele dizia que quando se era pobre usavam tamanco de madeira e calça ou calção de mescla que era o tecido de pobre. E que a carne que era consumida era a charque e que na época da guerra comiam muito bacalhau que vinha da Noruega ou de um modo geral da Europa. Ele disse que houve uma época que o bacalhau ficou diferente e o povo dizia que estava sendo feito de papelão para enganar os pobres. E que aos 12 anos já trabalhava no comercio em Recife fazendo limpeza, varrendo e carregando mercadorias, arrumando prateleiras nas lojas dos comerciantes franceses, judeus que dominavam o comercio.

Assim por ser esperto e inteligente e trabalhador, logo aprendia as coisas como se portar como atender e muitas vezes ele era chamado para atender no balcão, pois ia aprendendo a língua francesa com os donos e com os clientes pois muitos eram estrangeiros. Nas horas vagas pegavam livros e o iam alfabetizando com o francês.

Uma certa vez na hora que ele aos 14 anos e outros empregados já homens esperavam na calçada a loja abrir após o almoço. Um deles disse: Grita aí para aquela mulher: Caga na Canoa. Meu pai disse que não, mas todos insistiram. Então ele gritou: Caga na Canoa. E se escondeu por trás de um poste que havia na calçada. E foi assim que ele ouviu todo um repertório de difamação com muita classe e longos momentos ou intermináveis. Porque quando se pensava que ela havia terminado começava novamente o martírio. É tu mesmo né? Seu doente, seu lençol de bexiguento, escarradeira de hospital, culote de pintor, calça de sapateiro, tamanco de pedreiro, sanitário público e havia muito mais e quando ela cansava, respirava e voltava novamente a repetir tudo.

Teresa Cristina Monteiro
Enviado por Teresa Cristina Monteiro em 03/11/2015
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