Por vir

Ondas de calor alcançam a pele do rosto da menina que é puro sol.

O tempo passa....

E o relógio cheio de ponteiros e números cai.

No chão repleto de sinais, mergulham as horas.

Afogam-se as escadas, os degraus, e as Marias.

O sagrado, agora enciumado, ocupada um canto escuro na estante.

Uma vela apagada, nada mais.

As paredes amarelas carregam os retratos,

Da menina que de tanto ser, já era.

Contos de fadas e símbolos cristais,

Páginas marcadas, desenhos ancestrais.

Constelações profetizam a sorte,

Que lhe escapa entre os dedos.

Candelabros na tarde escarlate,

Que até a verdade dissipou.

O som da água batendo no vidro rasgado,

De segredos lapidados em azulejo e marfim.

Estatuetas exuberantes no móvel da sala,

De perguntas que alcançam respostas e deixaram de ser.

E o pesar, cravado na máscara do dia,

Desabrocha a mensagem lavrada:

Já não era sem tempo.

O vermelho rasgado da voz abafada,

Satisfaz a necessidade sonhada,

E já bastam de histórias cantadas:

De melismas sangrentos, a espuma dos dias.