VIVER NO OUTONO 
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Tenho me surpreendido pensando diferente, pensando urgente... Como se eu apenas fosse sobrevivente numa maré que nunca acaba. E nessa sequência de dias e mais dias, se faz meu vai-e-vem. Ondas e sobroços, cismas e silêncios Momentos saturados de ideias mornas e morosas.

Lamento muitas vezes o instante perdido, o dia parado, o nada fazer. Lamento quando a angústia me estraga as horas, essas que perco sem querer. Lamento quando nada dá certo e o sonho se esborracha na incertitude. Lamento quando mal respiro e choro sem viver aquele momento esperado (com sabor de primavera).

Então não me pergunto mais nada e contesto o oráculo do meu pensamento. A resposta eu já sei, está estampada na distância que me sufoca e na frieza de um sorriso que encaro com tristeza.  E choro com a frouxidão de um abraço, com a indiferença de um "bom dia", com a ausência de palavras que se propaguem quase que sussurradas como a cúmplice melodia da vida.

Muitas vezes me sobra covardia e me falta coragem até pra ser feliz, confesso! A alegria escapa. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre sentir o nada ou nada sentir, mas isso não é fácil. E sigo assim por entre o meio termo. Dias solitários ou meros arco-íris desbotados onde o sonho não quer mais pousar. O silêncio então não me inspira, não me aflige nem me acalma, apenas amplia em mim o vazio que traz dentro de si. 

E assim sendo, percebo que nem que todas as estrelas estão ao meu alcance. Que tantas e tantas vezes tudo não passa de um exercício ferrenho de paciência... e lá vou eu de novo. Esqueço a razão do meu silêncio e acendo as luzes.

Descubro-me novamente a sonhar com as estrelas para que eu possa pisar pelo menos na Lua. Nessa mania que tenho de viver no outono.