O CANTO DO DESENCANTO

EIS O MEU CANTO

QUE NASCEU LÁ NO SERTÃO

CANTO DE PRANTO E DESENCANTO

CHEIRANDO A SUOR SOBRE A TERRA

POIS FOI FEITO EM TEMPO DE GUERRA

COM UM CLAVINOTE NA MÃO

CHEGOU A CIDADE TODO INIBIDO

BLUSÃO DE COURO, CALÇA DE ZUARTE

CHEGOU ESPALHANDO POR TODA PARTE

QUE NO MUNDO ERA O MAIS CORRIDO

BEM FEITO PRA ELE NÃO SER ENXERIDO

ELE NEM SABIA O QUE ERA CIDADE

A PRIMEIRA VEZ QUE FALTOU COM A VERDADE

PELA PRIMEIRA VEZ O VI ABORRECIDO

MEU CANTO SÓ ESTÁ ACOSTUMADO

A ANDAR PELAS CAATINGAS DO SERTÃO

A GALOPAR EM CAVALO ALAZÃO

E POR CANGACEIROS FAMOSOS SER CANTADO

NESSA VIDA NUNCA FOI DESRESPEITADO

PORQUE SEMPRE APELOU PARA RAZÃO

FOI CANTADO PELO PRÓPRIO "LAMPIÃO"

ANTONIO SILVINO "CORISCO" E "VENTANIA"

MEU CANTO VAROU NOITE, VAROU DIA

JÁ FOI HINO DO POVO DO SERTÃO

MAS SE NINGUÉM GOSTOU DO CANTO MEU

QUE DESCULPEM A RUDEZ DO MEU CANTAR

QUE NINGUÉM VÁ SORRIR, NÃO VÁ ZOMBAR

NEM PENSAR QUE POR ISSO ELE ENTRISTECEU

ELE QUERIA SOMENTE EXPLANAR

O QUE VIU E OUVIU SOBRE ESSA TERRA

INJUSTIÇA, POUCA PAZ E MUITA GUERRA

EU SEI QUE NÃO É BONITO O CANTO MEU

MAS UM DIA ELE VOLTARÁ PRA ANUNCIAR

UMA NOVA AURORA QUE ROMPEU