Hoje eu te vi nos meus olhos

Sim! Hoje eu te vi nos meus olhos. E, por mais que eu tentasse desviar o olhar, não me foi permitido. Olhar de frente. Olho no olho. Olhar que fala sem precisar de sermão. Olhar que diz baixinho, ao coração, coisas que nenhuma palavra é capaz de significar.

A tua visão gritou comigo! Era você e não eu que estava a olhar pela imagem refletida do meu rosto. O olhar que me lanças, hoje, tem muitos significados. Pede para se aproximar, pede para se afastar, pede para ficar, pede para partir, pede para chorar, mas não se cansa de pedir para sorrir. Para deixar chorar e, depois, partir. Olhos que contêm as lágrimas, pois não querem fazê-las motivo de sofrimento para os que amas. Olhos da mais pura e bela forma de amar.

Olha-me com a visão de quem não suporta me ver sofrer. Com olhar de mãe, que, mesmo ausente, está presente. E, assim, por mais que eu não acredite em vida após a morte, teu olhar - refletido pelo meu - provoca uma certeza insana de que estás a me ver. Tal qual a imagem se forma invertida, na retina, e o cérebro é capaz de revertê-la, de colocá-la no seu “devido lugar”, o teu olhar possui essa capacidade quando direcionado aos meus sentimentos. É capaz de recolocar em ordem as ilusões que crio para não ter que admitir que já não posso mais te ver.

A lágrima contida, a lágrima que rola, os olhos vermelhos, a vista cansada; são formas tristes de mantê-la presente. A pupila dilatada é o encontro - sempre presente - da surpresa que tenho ao vê-la me olhando.

Te vejo nos meus olhos. Te vejo nos olhos das minhas irmãs. Te vejo nos olhos dos meus afilhados. Te vejo nos olhos de quem olha e, com o olhar, fala mais do que com a razão. É assim que te vejo. É assim que verei meu filho. É com esses olhos que irei fitá-lo, pois quero que recorde para sempre que o amor não se ensina com nenhum outro sentido que não seja a visão.