sobre flores mortas

Você diz que nunca soube mensurar o meu amor. Eu também não. Mas talvez você não saiba pois perdeu todos os momentos em que ele pôde ser quase palpável, de tão transbordante. Você quase nunca esteve aqui. Mesmo quando esteve, não estava. Eu te amei sozinha. Nas manhãs em que vi no espelho as minhas olheiras e soube que a causa era a voz, o violão e os pássaros. Nos sorrisos e lágrimas lendo Drummond e me sentindo de certa forma, conectada. Na alegria ao te ver nas fotos e saber que você atravessou o mundo, e que talvez pudesse finalmente encontrar a paz num floco de neve. Nas noites tristes em que senti tua falta e chorei por me sentir incapaz. Nos detalhes mínimos e bobos que enchi de significado só pra ter algo à que me apegar. Eu te amei também quando pensei amar outras pessoas. E em todos os discursos que elas me ouviram falar de que talvez isso nunca fosse passar. Te amei em todas as coisas importantes pra mim. No meu primeiro dia de aula no curso que sempre quis, no meu filme preferido, nos versos de todos os autores que me tocam. Te amei em tudo de transgressor e com poder de me desconstruir. Te amei em todas as teorias novas que aprendi e em todas as músicas que ouvi. Te amei quando num dia qualquer uma borboleta me acompanhou e o vento tocou suave no meu rosto. Te amei quando senti teus medos por você. E te amei quando senti muito, muito medo, por mim. Te amei nos abraços mal dados, mesmo quando não conhecia os apertados. Nos sorrisos, nos vídeos de gatinho, nas implicâncias bobas. Nas migalhas cotidianas. Te amei no topo de uma montanha e no chão cimentado de uma calçada íngreme. Te amei dentro de mim de todas as formas possíveis. Nos líquidos, no fundo dos olhos, na pele, no mais ínfimo da alma que você nem acredita que existe. É isso, você não acredita. Você só trabalha com a prática. E eu não tenho solução pro meu sentir. Não tenho solução pra tua gaveta sempre fechada. Meu amor se iniciou na primavera e você nunca enxergou todas as flores em mim. Algumas primaveras se passaram e continuo te amando, mas as flores... já morreram todas dentro da caixa de coisas bonitas que te dei, e que você nunca abriu.

Keuri Caroline
Enviado por Keuri Caroline em 26/12/2015
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