A Musa e o Artista

O Artista via a sua Musa.Via cada linha dela.Cada cor que preenchia o seu belo desenho.Cada detalhe destacado.Queria reproduzir toda essa riqueza na sua folha de papel.Com o seu lápis banhado pela cor negra.Uma cor tão fria.Tão triste.Tão solitária.Tentou reproduzi-la.Não importa o quanto ele tentasse.Mãos humanas como as dele não seriam dignas de recriar uma beleza divina.

Após várias tentativas,o Artista não fez nada,exceto despejar suas lágrimas.Queria muito reproduzir aquela beleza única.Uma reprodução feita por ele.Apenas ele.

Algo o tocou.Uma mão suave.Um toque calmo e simpático.O calor da vida.Um calor contagiante.Um calor viciante.Um calor aconchegante.Era ela.A Musa.Ela tinha ouvido o ruído da sua tristeza.A floresta do seu belo rosto angelical estava assolada por uma tempestade de pena com uma chuva de dúvida.O Artista tentou explicar o que o afligia,mas o rascunho desenhado em uma das folhas que lhe restavam explicou tudo.Ele não queria que ela soubesse.Achou que ela não iria gostar.

Ele se enganou.A Musa adorou ideia de ser retratada em um desenho.Por esta razão,ela aceitou dedicar seu precioso tempo ao Artista.Posar para ele.Ceder sua beleza.Mostrar sua essência.Queria mesmo que sua beleza fosse imortalizada no papel.

Dia após dia,o Artista encantava a sua Musa com seus desenhos.Muitos deles enriquecidos pelas cores que habitam a sua fonte de inspiração.Entretanto,na medida que as areias do tempo caíam,podia notar que a quantidade de detalhes de seu corpo só tendia a aumentar.Os desenhos a retratavam fielmente.

Era como se o Artista estivesse dando um toque mais...humano aos seus desenhos.

Ao mesmo tempo,a cor da sua pele a abandonava.Seus olhos perdiam o brilho.Os fios de seu cabelo envelheciam e caiam feito água numa catarata.Sua voz murchava.A massa de sua estrutura desaparecia.Era como se fosse um corpo sem alma.Uma casca sem sumo.Cada movimento machucava seu corpo.Sentia a sua vontade de viver ser arrancada de seus braços secos.

Procurou pelo Artista.Queria a ajuda dele.Saber o que estava acontecendo com ela.Procurava por alguma salvação por meio de sua mãos e os seus dotes artísticos.Mas ela não conseguiu.Ela apenas o viu,coberto pela juventude que ele tomou de sua Musa.Ele o viu por uma última vez,enquanto sua casca se deitava no chão,se preparando para expulsar sua pobre e inocente alma para fora daquele mundo cruel.Sua voz,antes sedutora e viva,reduzida ao ruído amedrontador que antecede o fim de uma história,disse:’’Por que?’’.

E o Artista,cobrindo-a com seus braços e fechando seus olhos,pronto para tirar sua última gota de juventude,responde:’’Porque a arte me mantém vivo’’.

Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia)
Enviado por Caio Lebal Peixoto (Poeta da Areia) em 30/12/2015
Código do texto: T5495659
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.