AQUARELA RURAL
AQUARELA RURAL
Amanhece, é o raiar de um novo dia e o sol clareia o sertão, meu querido sertão, minha terra querida.
Explodem cores, sopram brisas com os perfumes das flores e os sabores da terra.
Abençoados olhos e demais sentidos que tem a felicidade imensurável de apreciar todas essas belezas preparadas pela Divina Criação.
O dia já raiou, mas ainda cintilam gotas de orvalho nos pastos e nas relvas e os caboclos filhos da terra já estão de posse de suas ferramentas junto às plantações.
O gado muge nos caminhos abertos, ruminando, sorvendo a água do capim.
Árvores na beira da estrada, árvores e ingazeiros sobre os ribeirões, riqueza de águas claras e puras no frescor e no colorido da manhã.
Como é bela a natureza, como é lindo o meu rincão com suas estradinhas tortuosas, poeirentas e suas casinhas brancas na beira dos caminhos.
É muito agradável de ouvir o farfalhar do bambuzal, a sinfonia dos passarinhos e a bulha dos bichos de estimação.
Nas vivendas caiadas de branco com suas portas e janelas azuis, as galinhas, marrecos, patos e perus fazem a festa no terreiro quando uma criança jogas aos punhados o milho dourado.
Na casa grande da fazenda começa logo cedo o rebuliço com as senhoras abrindo as janelas e algumas meninas na arrumação. Cada um com seus afazeres e em cada rosto uma luz, um belo clarão.
No riacho cercado por perfumados narcisos bate roupa uma mulher, lenço colorido na cabeça e nas águas limpas cantarola uma canção.
Nas estradas singelas e tortuosas caminha cedinho o tropeiro com suas mulas carregadas e nas cangalhas as mercadorias que o homem leva para o vilarejo para a feira da semana. É o ganha pão que se faz com simplicidade, o ganho do pão com amor no coração.
Nos caminhos destes sítios muitas belezas se vê, como as lindas casinhas incrustadas nos sopés dos morros azulados, ao lado do ribeirão ,cercados por ciprestes perfumados e multicores flores silvestres, dando ao lugar uma imitação do jardim do Edém.
Sob as sombras de arvoredos meninos pescam lambaris no alarido e na pureza muito próprio dos guris.
Pelas estradas do meu sertão o visitante pode observar, admirar e se encantar com a paineira com a florada cor de rosa, o nataleiro lilás no meio da mata e o canto doce da juriti.
Não existe pobreza na roça, especialmente a pobreza de espírito, o que existe é muita simplicidade, a vida passa tranquila e a amizade e um sentimento que tem valor.
O visitante pode ver e extasiar-se com a cor amarela da flor do ipê, pintar um quadro tão lindo divisando o verde da terra e o azul do céu sem fim.
Pelas estradas por onde viajamos vemos casas com ondulante fumaça nas chaminés, cheiro de temperos e de comida deliciosas do nosso cardápio rural.
Ainda gemem os carros de boi nas estradas do sertão conduzidos com rigor por um hábil peão, que não maltrata os animais, mas fala com firmeza para seguir com a direção.
Na roça batalha o agricultor com a enxada na mão, lavra a terra, semeia a boa semente cuidando da plantação, bendiz a terra benfazeja que irá produzir o santo pão.
Ao longe revoam o passaredo emoldurando junto às montanhas azuladas um lindo panorama, uma indescritível paisagem digna de um artista pintor.
Balem carneiros nos pastos, saltitam cabritos arteiros, assobia o vento mansinho por entre os alecrins dourados que nunca foram semeados.
Passam -se muitos carroceiros gritando ordens aos cavalos, cumprimentam os viajantes que encontram nas estradas tirando de suas cabeças o inseparável chapéu de palha.
Seguimos por brancas estradinhas que a cada curva que tem nos revela ainda mais belezas, pois não guarda segredo nenhum.
Com a brisa morna da serra ondulam o capim gordura e despetalam-se as roseiras cultivadas em alegres jardins.
As abelhas zunem nas floradas dos cafezais e os cafezais bailam em ondas verdes preparando o rico fruto para o delicioso café.
Verde lago se descortina nos tranquilos vilarejos onde a orada se faz altaneira na colina, onde a vida transcorre tranquila, onde realmente há vida.
Nas casinhas pequeninas por entre os bosques sente e vive-se uma poesia, dá vontade de cantar e de sonhar no embalo de uma canção.
Nos barrancos dos caminhos por onde andamos, podemos ver as avencas miudinhas e as samambaias rendadas, oscilando, bailando sincronizadas ao sopro lento dos ventos.
As mulas e os cavalos dão ao cenário um toque de movimento, ficam pastando tranquilamente aguardando pela hora da faina.
As estradas que se nos apresentam parece não ter fim, mas é agradável caminhar por elas pois se pode admirar as belezas sem precisar de pressa para chegar a algum lugar.
Subindo os outeiros é possível observar lá longe as casas antigas dos tempos coloniais, o velho engenho de cana, o alambique o roçado e o canavial.
A vida pulsa célere nos estreitos caminhos desse sertão, nas sombras dos taquarais e com os aromas das folhagens que cobre qual alcatifas o chão.
O aroma de comida com seu tempero sem igual desperta o apetite quando ousamos das vivendas nos aproximar.
Burricos carregados de lenha e carvão caminhando de par em par completam parte dessa paisagem, onde caboclos e caboclas passam com alegria rumo ao trabalho todos os dias.
Um velho carro de boi permanece estacionado na frente da porteira e um menino corado corre para destrancá-la.
No silencio dos vales férteis a doce paz faz o seu reinado e como é bom esse silêncio para meditar.
Na verdejante relva se pode admirar o mundo fantástico dos insetos e em especial o balé multicoloridos das borboletas e as extasiantes e belas libélulas no seu voar nervoso.
Encontramos pelos caminhos as juntas de boi e seus condutores levando os produtos da roça para a venda, comercialização ou escambo nas vilas longínquas do grotão.
Nas casas ficam as senhoras prendadas cuidando da criação , alimentando o gado, ordenhando as vacas, separando o queijo para a confecção do queijo parmesão.
Na roça todos trabalham desde o simples caboclo até o rico patrão, pois o trigo dourado e nutritivo deve ser para servir como lauta refeição, para servir do sagrado pão nas mesas do povo das cidades e do sertão.
Abençoada vida campestre, abençoado sertão, aquarela de cores e vida, presente de todos os dias do meu Deus o Senhor da Criação.
Guilhermino, com a graça do Senhor Jesus. São Roque, 01 de fevereiro de 2016.