Ouço-te dizer o meu nome

Ouço-te dizer o meu nome no prenúncio do desabitar, quando me deito contigo e sou apenas um fantasma que vês. Ouço-te dizer o meu nome nas palavras que ondulam abertas no leito do rio, no murmúrio das letras que gritam como animal ferido tua pele no desaguar de nós. Ouço-te dizer o meu nome enquanto emudeces de desejo e beijas teus lábios pelo céu da minha boca em chamas. Ouço-te dizer o meu nome enquanto sangras de avassaladora liberdade por onde já não há regresso e as folhas caem porque é outono e tua pele geme ao crepúsculo e nossas horas proclamam a tua ausência de nós. Agora é tarde, a noite treme e ainda ouço-te dizer o meu nome enquanto o céu escurece e os pássaros recolhem-se enluarados de insuportável amor e os versos que escrevo esgotam-se íntimos e percorrem tua solidão por todos os cômodos da casa.