Lamento...

Lamento...

Interessante essa palavra. Lamento. Lamentar-se é diferente de Lamento. Lamento é o sentimento e ao mesmo tempo o ato. Curioso. A palavra vem do latim Lamentum. Na língua morta tem o mesmo significado. E, no entanto, muitas vezes carece de complementos para expressar aquilo que se está sentindo. Tão completa e tão solitária. Tão expressiva e tão vazia.

Vazia porque não encontrou eco. Expressiva porque traduz exatamente aquilo que a lágrima muda, o choro vazio e a tristeza perene não expressam quando o coração, ferido e solitário, teimam em abrigar: o amor. Porque esse amor é enorme, sem precedentes, sem igual nem iguais, esse amor simplesmente é, existe, se faz presente. De tão grande, difícil é contê-lo, sê-lo, tê-lo. O lamento é a expressão de tudo isso. Faz espremer o órgão vital – não literalmente, claro – e faz exsudar o choro. O lamento, então começa a fazer com que não tenhamos mais controle sobre as represas de lágrimas e, suas mãos espinhentas, pressionando o coração, fazem-no doer. Doendo, o peito encolhe, o coração sangra e não temos mais controle. O amor, aquele gigante sem precedentes, é estuprado, arrancado, espancado e torturado. Torturado é morto por um bando de palavras mal-ditas e então, nada mais pode ser feito. O lamento vem. Lamento...

Vem em ondas enormes, como no mar bravio. Vem em rajadas como o vento que precede a tempestade. Vem em pedaços, como os que foram arrancados de minha alma.

Lamento muito. Muito lamento.

Lamento solitário, tarde da noite, no meu quarto, enquanto essas palavras saem permeadas pela dor lancinante que me corta.

Lamento ter de ser assim. E sendo assim eu lamento. A dor é muita e eu mal escrevo. Fui vencido pelo orgulho de outrem. Pela irascibilidade e pela falta. De zelo, de carinho, de senso comum e pior, de amor.

Venceu-me também a falta do sonho, a companheira dele, a parceira que me arrancava o desespero e que agora me atira nesse abismo sem fundo da falta dela. Venceu-me o abandono dela. O apoio que não mais apoiará. A palavra que não mais confortará. O beijo que não mais acordará. O seio que não mais abrigará. O sexo que não mais levará ao reino dos querubins. O sorriso que não mais iluminará. Os olhos que não mais espelharão minh´alma. A boca que não mais me falará doce. Essa mesma boca, de palavras amargas, frias como o frio do norte. Tudo.

Lamento e lamentei muito e muitas vezes. Lamentei ter errado, ter dito, ter feito, ter ido, ter voltado, ter sido, ter existido. Lamentei nunca ter feito sempre, nunca ter dito o bastante, nunca ter ido junto, jamais ter pedido o suficiente. Lamentei. E Lamento.

Podia ter calado. Lamento. Podia ter falado. Lamento. Podia não ter feito. Lamento. Podia ter pensado. Lamento. Podia. E ainda assim, lamento.

Essa dor desse lamento, o choro convulsivo, o vazio, lamento, mas serão meus companheiros de agora em diante. Lamento não poder fazer diferente. Lamento.

Esse ferimento, aberto já desde antes, sangra agora. Muito. Lamento, mas não consigo estancar. Exaure-me as forças quando vejo o mar de sangue que jorra. Aliás, nem é tanto assim. Sangra sim, mas lamento não ter como pará-lo. Não mais.

Foi só um corte de nada. Um arranhão seria mais apropriado dizer. Mas... tem o lamento. Ah! O Lamento.

Lamento.

Que tenha que ser assim.

Que precise ser assim.

Que deva ser assim.

Lamento.

Você lamenta?

Pois bem. Lamente, pois.

Adeus.

Lamento.