Ainda somos nós

Ainda somos nós e o nome da paixão no fundo dos abismos, ainda somos nós. Ainda somos nós, perdidos de nos encontrar à distância, no cheiro da terra molhada, no sol da manhã que ergue-se devagar e sonolenta, ainda somos nós. Ainda somos nós, amor, caminhando por entre o cio das palavras não ditas, desaguados no que dá nome ao princípio de todas as coisas, na dor do fogo guardado, nas sílabas que se tocam escancaradas enquanto o outono despe as árvores do silêncio e o vento murmura teu nome como uma flecha cravada no peito, ainda somos nós. Ainda somos nós e eu te leio, e tu me veneras e me mordes, eu te leio e tu me possuis e me apunhalas o ventre como um vulcão ferido para entrar mais perto em ti de mim, no silêncio do somos em nós. Eu te leio e tu aprisionas o mar em teus olhos de súbita chuva muda. Ainda somos nós quando não há palavras e há algo que explode por dentro do peito.