AMOR LUZIDIO

Vou perseguir-te o dote de amor.

Tua alma, que de todo pura,

Flanará, ainda sem alcance para

Minha maresia de tão pouca levedura.

Ah! Este luzir abstruso, esta saudade sulcada,

Como nos campos dourados de trigo,

À preparação do plantio.

Ah! Este ciúme, que como o negrume

Habita-me, e liberta-se em temporal.

Em meu sonho avaro, me via perdido

Em trigais de umidade, nas torrentes

Que se lançavam desde as alturas,

Para lavar as dores sem termo dos errantes.

E os homens eram parvos, sentenças perdidas,

Sobre a terra vazia, se eternizava o momento.

E chovia pleno. Chovia o pranto, que também

Assomava em meus olhos, vindo de todos

Os meus desencantos.

Vai renascer, por ti, o novo amor, o rebento.

E virá, mesmo que em noite úmida e tão fria.

E virá, como se fora só a presença da poesia.

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 10/07/2007
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