Sobre quem sonha com montanhas
Do dia vindo o crepúsculo se espirra
e faço festa de boas vindas,
mas nas meninas dos olhos
sempre deixo gravado os desenhos do último ocaso;
o flamejar do céu púrpura-dourado
com as nuvens, como se ilhas montanhosas
flutuando naquele mar em chamas,
com silhuetas cinzas azuláceos.
Mas não é a bola carmesim
caindo suavemente
para dar o céu à noite, nem sua
iridescência em leques
que me bebem num só gole;
são as nuvens com alegoria de montanhas,
porque, montanhas, possuem
a capacidade sobrenatural
de me levar aos seus picos
sem me tirar da planície;
no ponto mais alto, onde o vento passa
sibilando mistérios, cerco um terreno
cheio de arbustos,
sem flores desabrochadas, para erguer minha cabana.
Não gosto de encontrar flores prontas. Prefiro
vê-las se aprontando em botão para aos poucos
irem-se abrindo até entregarem
o ápice da beleza.
Mas, voltando ao assunto das
montanhas, para onde as nuvens
me levam e consequentemente me fazem erguer
uma cabana cercada de arbustos
que ainda sonham em florir. lá, onde o vento sibila
melodia solitária, repouso aguardando a escalada
de um sentimento ainda menino,
inocente e inconsequente, arfante, porém corajoso,
a se agarrar nas escarpas, ora afiadas,
ora macias e relvadas,
amadurecendo em cada
transpirar, em cada avanço,
para quando o cimo alcançar, encontrar-me
admirando-o surpreendida
com seu crescimento espetacular - pois, assim como
com as flores, também não quero recepcionar
um amor já pronto, ou imediato, sem que eu tenha a oportunidade
de vê-lo me conquistar.
Confesso que sempre sonho com a tranquilidade das
montanhas acolhendo eu, meu amor e uma cabana.