O tempo é um despertador de sonhos

Ela voltava pra casa, já era tarde e estava só.

Andou olhando aqueles fios de alta tensão quando, sem pretensão, se viu no meio da multidão. Estava, de repente, rodeada de crianças de sua idade (mas que idade tinha agora?) que sorriam e aplaudiam o grande espetáculo.

Lá embaixo, no picadeiro, pessoas com roupas brilhantes se equilibravam em linhas parecidas com aqueles “fios que ligam os postes”, mas isso não era nada comparado aos elefantes grandões e enfeitados! Ela, tão pequenina, vendo aqueles animais que a poderiam levantar (e se invadissem e alcançassem o seu lugar, apenas para levá-la a se aventurar?). Lá, naquele circo, pessoas estranhas sorriam e ela mantinha seu fascínio em cada mínimo detalhe, cada traço desconhecido.

Ela voltava para casa e se viu parada embaixo do poste.

Que pena, o tempo não voltaria para que visse seus risos soltos e descontrolados, seus olhos miúdos que cintilavam...

Que pena, em momento algum iria rever aquele espetáculo.

Que pena, ela nem lembrou de sua idade, ou qual o penteado... não lembraria como chegou ali, mas amaria ter-se conhecido assim.

O tempo é mesmo um despertador dos sonhos prediletos.

Mas nem a força do tempo destruiria a essência daquela menina: Era uma pequenina que desejava um elefante. Hoje, nem tão pequenina, faz história com “fios ligantes”.