PAREDES DE BLOCOS SEM REBOCO
sem cor sem textura sem comparecimento de sentido
camadas de tristeza, de amargura, carentes exceto de rima interna
paredes de blocos sem reboco
com medo da presença externa do amor que se aproxima, um apego natural à dor que nos contamina e muito mais se prolifera!
a luz do sol batendo devagar, fustigando quem admira quem atira os olhos sem razão pra qualquer direção sem questionar,
um olhar (o mesmo) que se joga contra a vida frágil que se quebra sempre feito vidro, cujos estilhaços perfuram os olhos sem avisar esses olhos que ali se vêem invisíveis insensíveis e sentindo o que não se sente, olhando-se indiferentes, observando
o que se apresenta tão claro a toda nossa gente
bem profundamente dentro de cada coração, cada alma triste e decente, mas decadente
que ainda sente o que todo mundo sente
não choro ao ver, não chore você também nem quem não vê, ninguém chora, ninguém vê
Do lado do lugar rejeitado, em sua miséria, sua única saída é partir dali e nunca mais voltar
esperando na certeza de não se ter nenhum lugar pra onde ir ou onde ficar
mas as rimas internas continuam - CÂNCER BENIGNO OU MALIGNO? -
como alguma solução pra arrancar da escuridão do arcadismo o meio-termo preciso de um silêncio impreciso mas expressivo, exaustivo de tanto lutar sem lutar morrendo sem nunca sequer atacar!
tão agressivo quanto calmo, tão bondoso e inumano
falo das casas erguidas às pressas por quem tem necessidade de morar, pressa de enraizar
Falo de moradias tardias e precárias
assim chamadas de barracos pelos agentes de sua construção imediata e desesperadamente fugaz
falo dos muros levantados tentando juntar grupos de indivíduos endividados e divididos pela sede de morar, um assentamento inalcançável
ovelhas velhas e jovens desgarradas do rebanho que já não mais os quer nem de volta os quer
São milhões de germes que permeiam a terra dos pobres
que se alegram na tristeza
e se fortalecem no orgulho de sua imensa fraqueza, que respondem sorrindo expostos ao império do sol ou sob a terrível tempestade que aos poucos os devora e aos poucos os estimula e os empurra pra sua sina, deixando-os revoltados e loucos mas certos de seguirem seu justo caminho
Já não consigo mais evitar as internas rimas, pois o sangue tem sempre um destino certo fora do corpo que para a própria falência se inclina, mas estas rimas insistem em umedecer por dentro, mal compreendendo que devem jorrar muito cedo e refrescar as feridas em nossos pés!