Defeito
Após horas e horas discursando sobre ela, deparo-me com uma questão interessante:
- Mas ela não tem defeitos? Repara bem, foi capaz de falar dela por horas sem citar um defeito sequer.
- Defeitos? É claro que ela os possui, meu amigo. Todos temos, não é?! Mas confesso que seus defeitos são particulares em demasia. Por exemplo, ela tinha o péssimo hábito de pegar um palavra, dentre tantas que a frase dita por mim continha, e a interpretar de uma forma totalmente adversa. Não o fazia por mal, apenas deseja realmente entender, e não ter dúvidas. Eu, então, precisava passar minutos, e às vezes até mesmo horas, explicando para ela o que eu realmente havia tentado dizer. Mas, amigo, eu amo me explicar. Eu gosto de detalhar até mesmo os detalhes. Esclarecer todos os pormenores. Então quando ela exercia o defeito dela, eu podia, finalmente, exercer também o meu.
O defeito dela não me prejudicava. Não me era difícil lidar. Não causava agonia. Não chateava. O defeito dela fazia-me bem. E, meu caro, nossa sintonia tanto extravasava, que o defeito dela junto ao meu, já não eram mais nem sequer defeitos.