Memória
Vão-lhe desenhando as costas com a ponta da matraca.
-Vá fala. Quem te deu esses papéis?
Lá fora já se acenderam há muito os anúncios luminosos;aqueles que aconselham o bálsamo tal para a dor de dentes, os outros dos pensos milagrosos e o leite de colónia para você mulher bonita. “De colónia é o leite que você deve usar, Leite de colónia p´ra beleza realçar".
-Com quem te reunias?
Ali a boca formou pilar com os dentes e a raiz das unhas sentiu fincarem-se as unhas.
Na telefonia, uma eterna cantora destrói uma velha canção, em que fala na emancipação das mulheres e na quadratura do círculo.
Na rua saindo de táxis há mulheres envolvidas em casacos de peles.
-Porque escrevias nas paredes?
Novamente a mesma muralha no olhar e o derramamento de um cérebro em catapultas de sono e de sofrimento.
Na 1ª página dos jornais dizia-se: Que a princesa já tinha noivo.
Que lá fora se torturavam os presos políticos.
Que o Benfica não ganhara outro campeonato.
E que o carro saíra ao senhor fulano de tal.
-Deixa-o está morto! Tragam o outro!