A menina e o engenho
(Claude Bloc) 
 
Mal nasci fui levada a morar numa fazenda. Tempos áureos de minha vida, tempos de ouro dessa terra que foi meu berço e minha escola de conduta e de caráter. Portanto, tudo o que falo sobre a Serra Verde não me cansa, não me enfada, não me tira do prumo porque cada vivência, cada fôlego traz á tona uma parte de mim, de minha história, de meu amor a/por essa terra.

Sou, então, como gado manso que retorna dia-a-dia ao pasto e tem ferrada em brasa toda a simbologia do lugar. Minha alma, com toda certeza tem esse ferro aceso que não me deixa calar nem parar de exaltar esse sentimento forte ligado à terra e às pessoas com quem aprendi a simplicidade e o orgulho de assim ser.

A fazenda era o meu reino, o engenho meu império, um ambiente mágico onde papai dirigia e guiava os destinos de todos. Lá eu tinha espaço pra sonhar, pra ser criança, pra correr pelas estradas de pés descalços sentindo o pó das ladeiras entre os dedos, me fazendo viajar no pensamento e ir além daquilo que eu via. Nesses voos eu me sentia sempre parte do todo, e o todo estava em mim. Era assim que eu na minha ingenuidade vasculhava esse universo e me inseria nos mínimos aconchegos da terra.

Vivi cada etapa não como uma simples espectadora. Lembro-me de tudo. De cada recanto, de cada gente, até quando me vêm à tona as superstições e crendices comuns entre as pessoas do lugar.

Por isso sou seduzida por todas as descrições dessa paisagem e dessa vida que corria lenta e parecia não ter fim. O engenho, por sua vez adoçava as férias do meio do ano e trazia em toda sua plenitude a marca açucarada de nossas alegrias.