Abraço Verdadeiro

Abraçada pelo cerrado, seguro o ar seco pelas narinas que ficam cascudas apesar de umedecê-las e tomar 4 litros de água ao dia, alguns banhos, untar a pele com óleo de coco e tomá-lo também.

O momento é único!

Todo ano vivo isto e é sempre diferente, desigual.....cada ano mais seco, cada dia mais canaviais e o cerrado sendo dizimado pelos latifundiários.

Precisam disso pra rechearem suas contas, sentirem-se machos com suas naves-caminhonetes transitando com única pessoa dentro.

E o vento, sem escoras da vegetação natural passa ligeiro demais, varrendo tudo que encontra pela frente, formando redemoinhos que dá medo e a oca enche de terra e as plantas, ficam marrons, ásperas, sem poderem respirar, sofridas demais.

Nós que recolhemos água da lavação das roupas para descarga e limpeza doméstica; recolhemos água que lavamos verduras e legumes para regar o quintal repleto de verde e a terra agradece devolvendo sombra, frutos e perfumes. Quando vivemos essa realidade simples do dia a dia, não conseguimos olhar para o cerrado e florestas com olhar sossegado. Sabemos onde isso vai dar! Sem falar das nascentes, córregos, rios e mares......aí é pra descabelar mesmo.

Aqui, envelhecemos antes do tempo devido ao clima seco demais. Somos criaturas fortes morando no centro do País.

Também no Sul onde morei por 5 longos anos, vi gigantes vencendo as intempéries. Ali, quando a temperatura estava negativa, chorava de frio.

No Sudeste (Sul do RJ), no sopé do Pico das Agulhas Negras, vivi por 10 anos. Ali o clima é fantástico, equilibrado, bom demais para meus pulmões delicados.

Há 9 anos retornei ao Centro-Oeste, e percebo como essa minha terra está cada dia mais complicada, áspera e sofrida.

Toma meu espírito e meu corpo a força e posso cantar ainda e até morrer!

O cuidado que carrego em mim monta guarda dia e noite.

Às vezes me desespero, às vezes rezo por um deus, às vezes choro.

Meu bairro é o retrato do país. Uma gente atrapalhada com seus lixos, seus animais, suas crianças; a escolaridade baixíssima, são grosseiras e corruptas ( vejo nas filas dos pontos de ônibus e nas do super mercado também).

Os jovens e crianças que quiseram, ensinei-os a bordar e tecer, mas até agora depois de anos, só o Rhuan e o Renan estão firmes mesmo. Sinto que valeu a pena! Quisera poder entrar com a devida confiança, aos seus corações e suas consciências para colaborar um pouco mais, mas quem sou eu? Só uma senhorinha de cabelos violeta que anda de bike enfeitada de tules e fitas coloridas.

Sou privilegiada, quase feliz, ainda trago no peito este desejo, desejo ser feliz de verdade.

Continuo por cá.

Longa a vida é.

Arana do cerrado
Enviado por Arana do cerrado em 19/06/2016
Reeditado em 26/06/2016
Código do texto: T5672005
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