AS MARAVILHAS DO MUNDO: DETALHES.

Que seria da imensa praia sem a insignificância do grão de areia?

Da resistência do botão sem a força da linha que o sustenta?

Haveria tantos arranha-céus, sem a força de trabalho de tantos miseráveis famélicos? O esplendor gótico de tantas catedrais e a suntuosidade dos castelos da Idade Média, sem que se utilizassem o trabalho quase escravo dos servos da gleba?

Seria possível a beleza e o deslumbramento da Torre Eiffel sem que operários, em algum lugar, tivessem passado pelo calor sufocante das forjas que moldaram cada peça em puro aço?

Quanta ira represada nos corações, dos que construíram palácios e hoje são impedidos de adentrá-los.

Trens puxando vagões carregados de imensas riquezas,não sairiam do lugar sem a dedicação do humilde maquinista?

As grandes damas da sociedade estariam livres para suas tardes de futilidades, não fossem as empregadas domésticas a fazer suas tarefas nas ricas mansões dos bairros burgueses?

Estaria Itaipu distribuindo quatorze mil megawatts para dois países se milhares de operários não tivessem passado parte de suas vidas, cavando, transportando, apertando parafusos e esticando fios para erguê-la?

Que seria da construção das grandes metrópoles sem os exércitos de desgraçados a amassar o barro para moldar tantos tijolos?

Como pode o transatlântico alcançar seu destino, não fossem as centenas de marinheiros e trabalhadores na casa das máquinas, mergulhados em fumaça e graxa, cuidando da manutenção do seu rumo?

Estaria a Esfinge a desafiar o mundo com seu olhar, se milhares de escravos não tivessem morrido ao arrastar os pesados blocos de pedra que a compõem?

Como acentua Brecht em sua poesia transformadora:

“Quem construiu Tebas, a das sete portas”?

Nos livros vem o nome dos reis,

Mas foram os reis que transportaram as pedras?”

Quando se deixará de aclamar as autoridades, os líderes políticos, os grandes generais, para dar o merecido valor aos que realmente construíram as maravilhas do mundo?