Teimosa Flor

Nasceu assim, enrodilhada no cordão umbilical, chorona, teimosa e do tempo das palmatórias........aprendeu a ler e escrever aos 4 anos no colo de sua avó Enedina (Sadica) professora mais brava do sertão de Goiás.

Muitas pedras de desgosto quebrou.

Ligada sempre aos cheiros antigos e cantigas cresceu.

Da arca de sua bisavó Carlota Carolina, que exalava perfumes de patchouli, mirra e pétalas de rosas secas, aprendeu a delicadeza que a embala até hoje pelas capelas e igrejas às segundas-feiras.....cheiros de velas apagadas e rosas desidratadas pelos altares.

Menina ainda, umbigo no jirau , areava os alumínios da inconsciência da época.

Umas cem peças a cada sábado e todas sem serem utilizadas durante anos até ficarem fininhas......foi o tempo que ali viveu.

Eram exibidos numa pobre cozinha com seus paninhos engomados com polvilho fervido na água e passados com ferro à brasa.

As comadres, vizinhas, elogiavam o asseio, o brilho dos mesmos e a menina enjoada, calejada, pegou uma intoxicação por alumínio pelos poros e foram anos de labuta para extraí-lo.

À custa de saunas, banho de agulheta, ventosas, alimentação sem açúcar, suas dores de cabeça e enjoos cessaram e nunca mais areou uma vasilha sequer!

Hoje ela cozinha nas velhas panelas de ferro e pedra sabão....o tempo de inconsciência terminou!

Sou filha teimosa da Terra, criada em um núcleo sem afinidades, muito útil para fricção, necessário ao meu despertar.

Haja mandioca, batata-doce,banana da terra cozida, ovos caipira e os cabelos e pele cheirando a óleo de coco......vida saudável, simples, cuidando do lixo orgânico, coleta de água das roupas e chuvas.......uma trabalheira que me dá um prazer danado!

Sou mesmo teimosa por natureza, sobrevivente da vaidade inconsciente......mas isso é só um fiapo em meus costados d'alma.

Vivo sossegadamente.

Arana do cerrado
Enviado por Arana do cerrado em 21/08/2016
Reeditado em 21/08/2016
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