C R I A N Ç A

Pobrezinho... dormiu...Um sono terno...profundo. Um sono tranqüilo, porém. Em seus pensamentos só acontecem coisas boas, coisas divinas, pois, não há lugar para a maldade. Seus sonhos: coloridos, puros, límpidos. Dorme, criança, pobre criança, que me faz voltar à infância, que me faz ver somente coisas bonitas, que me faz chorar. Chorar com vontade de caminhar de volta, de retroceder no tempo, de esquecer que sou adulto. Que bom lembrar aqueles tempos tão distantes, quando uma Santa me embalava nos braços ou sentava-se à minha cabeceira e eu, feliz, dormia ao som de uma Ave-Maria. Tempo passado, jamais esquecido; tempo fugido, jamais apagado. Pobre criança, sinto inveja de você. Ao vê-la, assim, tão inocente, dormindo, sinto um aperto no coração; uma vontade louca de fugir do presente, de esquecer o futuro e de viver para sempre no passado. Pobre criança... que inveja eu tenho de você. Seu mundo é diferente do meu; seus sonhos são mais puros que os meus. Pobre criança; digo pobre porque amanhã você não mais será uma criança e o destino, talvez, lhe roube o direito de ser feliz. Esse sorriso que você agora ostenta poderá ser apagado; essas lágrimas que agora eu derramo, você também poderá vir a derramar. Pobre criança... eu amo você e, te amando, estarei em paz comigo mesmo, pois, não há nada mais puro, nesse mundo, que um olhar seu; não há nada mais bonito que um sorriso seu. Dorme, criança... amanhã será um dia a mais e um dia a menos em sua vida. Amanhã será um novo dia, também, para mim. Dorme, criança... sonhe, criança... viva, criança... viva por mim...

(10-11-1971 – 20,00 horas )